Diário da Região
ARTIGO

Exu é Santo Antônio…. o sincretismo!

O sincretismo entre Exu e Santo Antônio surgiu no contexto da escravidão

por Mácia Lima Ventura
Publicado em 10/06/2025 às 18:27Atualizado em 11/06/2025 às 07:52
Mácia Lima Ventura (Divulgação)
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O sincretismo religioso é um fenômeno marcante na cultura brasileira, especialmente no contexto das religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé. Uma das expressões mais emblemáticas desse sincretismo é a associação entre Exu, orixá das encruzilhadas e mensageiro dos deuses, e Santo Antônio, conhecido popularmente como o santo casamenteiro e celebrado em 13 de junho, data que também marca o Dia dos Namorados no Brasil.

A associação entre Exu e Santo Antônio não se dá de maneira uniforme em todos os terreiros e tradições, mas é bastante presente. No Candomblé, Exu é considerado o orixá que abre os caminhos, estabelece a comunicação entre os seres humanos e o mundo espiritual, além de ser o guardião das encruzilhadas, lugares simbólicos de escolha e mudança. Exu é também aquele que rege os prazeres, as paixões, o movimento e a transformação — aspectos profundamente ligados à ideia de amor, sedução e relacionamento, temas centrais no Dia dos Namorados.

Santo Antônio, por sua vez, é venerado na tradição católica como o santo protetor dos pobres, dos casamentos e das coisas perdidas. Seu culto popular transformou-o no padroeiro dos casais e, consequentemente, em figura central nas festividades juninas e no Dia dos Namorados. A tradição de fazer simpatias e rezas a Santo Antônio para encontrar um amor é um costume profundamente enraizado na cultura brasileira.

O sincretismo entre Exu e Santo Antônio surgiu no contexto da escravidão, quando os africanos trazidos para o Brasil foram forçados a adotar a religião católica, mas encontraram formas de preservar suas crenças ancestrais através da identificação de seus orixás com santos católicos. Exu, muitas vezes mal interpretado e injustamente associado a uma figura demoníaca pela visão cristã, encontrou em Santo Antônio um símbolo com quem compartilhar aspectos de sua função espiritual: ambos são invocados para abrir caminhos e resolver problemas, especialmente os relacionados ao amor.

Essa sobreposição simbólica reforça o caráter ambivalente e multifacetado de Exu. Ele não é apenas o orixá das encruzilhadas, mas também aquele que rege as relações humanas, o desejo e as transformações afetivas. Por isso, no dia 13 de junho, muitas pessoas celebram Santo Antônio com festas, rezas e simpatias, enquanto em alguns terreiros também se realiza oferendas a Exu, pedindo proteção, abertura de caminhos e sucesso no amor.

O sincretismo, nesse sentido, é mais do que uma adaptação: é uma expressão de resistência cultural e espiritual, que une símbolos, crenças e práticas distintas em uma rica tradição de celebração da vida, do amor e da espiritualidade. Assim, o Dia dos Namorados no Brasil transcende seu caráter meramente comercial e se insere em um contexto profundo de fé, cultura e história, marcado pelo encontro de diferentes matrizes religiosas que formam a identidade brasileira.

Márcia Lima Ventura

Mãe Márcia da Osum e membra do Coletivo Mulheres na Política