As Havaianas deram um tiro no pé?
Larguemos as armas, precisamos de flores, de abraços, de finalizar esta dicotomia política

2025 quase terminando, mas as polêmicas no mundo político, não. A recente peça publicitária da Alpargatas, produtora das sandálias Havaianas, mal foi ao ar e já produz polêmica.
Parte da direita, liderada por políticos e apoiadores, sentiu-se ofendida com a afirmação feita na propaganda pela protagonista a atriz Fernanda Torres, sabidamente com viés de esquerda, ao afirmar que “devemos iniciar o ano com os dois pés e não somente com o pé direto”, como tradicionalmente os supersticiosos dizem. Os furiosos e agressivos logo se juntaram a fim de propagarem ódio e um boicote ao produto.
Mas será mesmo que a Alpargatas/Havaianas teve esta intenção?
Qual o propósito, no mundo capitalista, uma grande empresa ignorar ou descriminalizar pessoas apenas por terem posicionamentos políticos diferentes? Teriam eles interesse em vender suas sandálias apenas para um dos grupos? Seria uma ideia quase que infantil para uma companhia tradicional com tantos anos no mercado que tem as vendas/lucros como objetivo. Não acham?
Por que uma proposta que propõe e realização de seus desejos em 2026 pode ter ofendido tanto? Seria a escolha da atriz? Será que Regina Duarte ou Zezé de Camargo fariam melhor essa propaganda? O ideal teria sido juntar outra atriz/ator com viés político contrário e as (os) duas(dois) terem feito o pedido de “entrarmos 2026 com os dois pés” juntos?
Não sei qual a resposta correta. Então, teria Alpargatas/Havaianas dado um tiro no pé?
A peça faz uma alusão a equilíbrio e ao desejo de liberdade para que possamos escolher e realizar nossos sonhos no ano que entra. Os pés são membros fundamentais para propiciar o equilíbrio, ter os dois é o ideal sempre em qualquer momento. Se melhor pensada, a publicidade pede democracia.
Larguemos as armas, precisamos de flores, de abraços, de recomeço, de finalizar esta dicotomia política e iniciar outra etapa: falando menos, ouvindo mais, com mais empatia e menos preconceito, com um olhar mais sereno e menos provocativo.
Para iniciar um novo tempo é preciso se desarmar, ouvir de novo (quantas vezes necessário for), ter paciência, reler a história, hastear bandeiras brancas. Mas sem mudanças aleatórias para encobrir bandidos e criminosos ou movimentos que afrontem as leis. Blindagens a políticos e a quem quer que seja não é admissível para um país que tem constituição e poderes constituídos.
Em uma nação democrática, as diferenças ficam no campo dos debates de ideais e não na propagação do ódio. Quem sabe o sonho das Alpargatas/Havaianas, mesmo que não entendido, possa ser aceito por ambos os lados, em algum momento, de forma leve e suave.
Lutar, sim! Indignar-se, sim! Pedir justiça, sim! Protestar, sim! Respeito, sim! Pedir perdão, também! Que 2026 venha com reflexões de lado a lado com mais equilíbrio, democracia e paz!
Roberto Carlos Musegante Jr
Engenheiro Agrônomo.