Operações contra o PCC na região de Rio Preto desmontam lavagem de dinheiro e tráfico
Em uma delas, PF identificou a movimentação de R$ 45 milhões de uma empresa fantasma de Rio Preto. Em outra operação, com duas mortes de suspeitos, PM e Gaeco lançam ofensiva para desarticular esquema de distribuição de droga liderada pelo PCC

O Primeiro Comando da Capital (PCC) foi alvo de duas ações policiais simultâneas na terça-feira, 18, em cidades da região. A Polícia Federal deflagrou uma operação para combater um esquema regional de lavagem de dinheiro da facção, enquanto uma ação conjunta do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público e da Polícia Militar buscou cumprir oito mandados de prisão contra integrantes ligados ao tráfico de drogas. Durante a ofensiva estadual, dois alvos da operação foram mortos em confronto com equipes do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), em Votuporanga.
A Operação Remittere, deflagrada na madrugada de terça-feira, 18, surgiu a partir de uma investigação iniciada pela delegacia da PF de Rio Preto, relevando que uma empresa de venda de seguros da cidade estava sendo usada pelo PCC, transformada numa espécie de corretora financeira, sem autorização do Banco Central. Era um meio de lavar R$ 45 milhões em dinheiro do tráfico de drogas, contrabando de cigarros e exploração ilegal de ouro, ao longo dos últimos dois anos.
Chamaram atenção da PF as transferências para essa empresa, com valores acima dos R$ 100 mil cada uma, mas feitas por pessoas com renda financeira incompatível, com pouco ou nenhum patrimônio, e todas com antecedentes criminais. Além disso, durante as investigações a PF apurou que a suposta seguradora sequer tinha sede física, estava sem funcionários registrados e não havia comercializado nenhum seguro.
“A empresa estava registrada como corretora de seguros, mas não tinha funcionários, estrutura ou declarações oficiais. Não foi identificada até um momento nenhuma operação efetivamente que ela tenha sido feita nesse ramo de seguro. A movimentação era incompatível com a atividade declarada e os recursos eram distribuídos para pessoas com vínculos criminais, o que reforça sua atuação como fachada para lavagem”, explicou o delegado Alexandre Manoel Gonçalves, coordenador da PF em Rio Preto.
Conforme apurado pela PF, a seguradora foi transformada em corretora financeira por meio de uma pessoa com experiência em mercado financeiro, bem diferente do proprietário oficial, que tem como experiência o envolvimento no tráfico. A próxima etapa da apuração da PF vai tentar chegar até a identidade do criador da corretora financeira.
Com autorização da 7ª Vara Federal de São Paulo foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão nas cidades de Manicoré e Humaitá, ambas no Amazonas, Cruz (CE) e em Rio Preto. Foram apreendidos documentos, computadores e celulares de todos os suspeitos.
Tudo será enviado para a perícia criminal da PF para, inclusive quebrar o sigilo, mediante autorização judicial, para descobrir, por meio dos telefonemas e mensagens, mais informações sobre o esquema financeiro e quais são os beneficiados, além de bloqueios de bens para garantir ressarcimento aos cofres públicos.
Os investigados deverão responder pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Por enquanto, todos vão responder em liberdade, até a PF descobrir se apenas emprestaram os nomes para a movimentações financeiras do PCC ou eram também beneficiárias do dinheiro.
A próxima etapa da operação será a oitiva dos investigados, para explicarem a origem do dinheiro depositado na empresa, muito acima de suas capacidades financeiras.
"Agora nessa fase da investigação busca identificar quem são realmente os destinatários lavados nessa empresa, alguns aqui em Rio Preto, mas outros em outros estados como Amazonas e Ceará porque a maiorias depósitos em suas contas" explica o delegado.
OITO PRESOS E DOIS MORTOS

Em outra investida contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) na região, a Polícia Militar e o Ministério Público deflagraram na manhã desta terça-feira, 18, a Operação Cronos, desmontar núcleos da facção criminosa dedicadas ao tráfico de drogas e à comunicação clandestina entre presos e integrantes em liberdade. A ação ocorreu em Rio Preto, Votuporanga, Catanduva, Santa Albertina e Paranapuã, o que resultou em oito prisões, apreensão de armas, drogas e outros materiais, além de dois suspeitos mortos em Votuporanga após confronto com policiais.
Segundo o promotor de Justiça Tiago Dutra Fonseca, a inteligência do Ministério Público identificou uma estrutura criminosa voltada à venda de drogas na região e ao repasse de ordens de dentro do sistema prisional. “O foco foi interromper o fluxo de comunicação entre detentos e comparsas de fora, muitos deles mulheres que assumiram funções operacionais e de coordenação do tráfico”, afirmou.
Foram cumpridos 11 mandados de prisão temporária, dos quais oito resultaram em prisão. Entre os presos estava uma mulher foi presa em flagrante por tráfico. Um dos alvos permanece foragido. Ao menos 19 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em residências e sete dentro de unidades prisionais — entre elas o CPP de Rio Preto e as penitenciárias de Lavínia e Serra Azul. Celulares, cadernos com anotações do tráfico, drogas e dinheiro foram apreendidos, inclusive no interior de celas.
Segundo o promotor Thomás Lamster, do Gaeco, a operação é desdobramento da investigação iniciada em junho deste ano, com a Operação Cosmos, deflagrada em Votuporanga. “A análise do material apreendido em Cosmos nos permitiu identificar novos envolvidos e funções específicas desempenhadas dentro da facção, como liderança de disciplina e organização do chamado progresso, que é a venda de drogas”, explicou. Ele destacou o crescente envolvimento de mulheres, usadas como intermediárias de presos.
Durante o cumprimento dos mandados, dois suspeitos, considerados pela PM, de alta periculosidade, reagiram à prisão e morreram no confronto com a PM em Votuporanga, nos bairros Sonho Meu e São Cosme. Eles acumulavam passagens por tráfico, homicídio e associação criminosa. “Esses investigados optaram pelo confronto. A equipe agiu em legítima defesa”, disse o coronel José Thomaz Costa Júnior comandante do Baep de Rio Preto.
O comandante do CPI-5, coronel Paulo Beltrami, classificou a operação como bem-sucedida e reforçou que nenhum policial ficou ferido. “A missão foi cumprida com segurança e efetividade. Não buscamos o confronto, mas agimos quando necessário para proteger a sociedade”, afirmou.
Além das apreensões, o Ministério Público informou que os detentos flagrados com celulares e drogas poderão responder por falta grave e que as informações serão compartilhadas com a Secretaria de Administração Penitenciária para apuração de responsabilidades sobre a entrada dos itens nos presídios.