Laudo descarta tiro nas costas em homem morto em bar de Rio Preto
Para defesa de Keven Novaes, exame reafirma a tese de legítima defesa; delegado, porém, afirma que o laudo não muda seu "entendimento"

O delegado Marcelo Ferrari, do 1º Distrito Policial, responsável pela investigação de homicídio contra o serralheiro Geovani Svolkin da Silva pelo segurança Keven Igor Silveira Novaes, em um bar de Rio Preto, informou que a vítima não foi baleada pelas costas.
É o que aponta o laudo necroscópico produzido pelo Instituto Médico Legal (IML), que identificou, no corpo de Geovani, três orifícios produzidos por projétil de arma de fogo, sendo dois de entrada e um de saída. Os ferimentos produzidos pela entrada das munições estão localizados na parte frontal do corpo.
“Apesar do laudo, as imagens mostram claramente que Geovani estava correndo de Keven quando foi morto. Por isso, o laudo não muda o meu entendimento. Ter atirado pelas costas seria um agravante do crime, mas não afasta a motivação torpe”, disse o delegado.
Ferrari esclareceu que aguarda o laudo de local do crime, com a trajetória dos tiros, para concluir o inquérito criminal.
Em nota, a defesa do segurança reafirmou que Keven agiu em estrita legítima defesa de seus pais, sem qualquer excesso. “O laudo necroscópico do IML confirma que, apesar de três orifícios de entrada, apenas dois disparos foram efetuados, e nenhum deles foi pelas costas da vítima. Um dos disparos atingiu a parte posterior do braço da vítima devido à sua postura de ataque, comprovando a natureza defensiva da ação. Kevin agiu unicamente para proteger seus genitores – incluindo sua mãe, com saúde delicada – de uma injusta e iminente agressão, cessando sua ação assim que o perigo foi afastado. Ele é um filho que, em um momento crítico, protegeu sua família como um verdadeiro herói. Confiamos que a Justiça reconhecerá a verdade e a total ausência de ilicitude em sua conduta”, consta na manifestação.
O segurança é considerado foragido. Contra ele há um mandado de prisão temporária.
Advogado da família da vítima se posiciona
"Para quem possui boa visão, o vídeo revela muitos detalhes: Marcos e Geovani já não estavam mais brigando com ninguém; Keven surge exaltado, com a arma em punho, golpeia o rosto da vítima com um golpe de “coronhada”, aponta a arma e efetua o primeiro disparo. Em seguida, a vítima, indefesa, sem reação, já atingida, sai andado com a intenção de se esconder atrás de uma camionete e Keven segue em sua direção. Do primeiro disparo para o segundo estampido que revela o segundo tiro transcorreram em torno de 7 segundos. Geovani estava de costas e o segundo disparo foi, sim, pelas costas. Quando a perícia finalmente for juntada aos autos será impugnada por nós, que atuamos como assistente da acusação; veremos a lisura do trabalho realizado, porque seria inadmissível que diante de um crime de homicídio não tenha a perícia especializada tirado fotografia do orifício de entrada e saída contido no cadáver da vítima, para fins de comparação balística; no mais, seja pelas costas ou não, estamos lutando pela verdade que é somente uma: Geovani, desarmado, foi covardemente morto. Inexistia qualquer situação que legitimasse a conduta do agressor. A briga já havia cessado e o uso da arma de fogo foi em momento posterior, empregado com excesso, com intento homicida, motivado pela vingança contra uma pessoa desarmada, que não teve direito ou capacidade de exercer sua defesa. Vamos lutar pela condenação do réu pelo crime que cometeu: homicídio duplamente qualificado e informamos a sociedade que o ato por ele praticado é criminoso, pois da forma que estão tentando desenha o enredo, não nos estranharia se em sua próxima manifestação venham colocar a culpa na vítima, no irmão, na cunhada (…) enfim, Geovani é vítima, foi morto com dois disparos, sendo um pelas costas. A conclusão do perito não é definitiva, cabe impugnação, e se ainda assim “comprovarem” que foi dois tiros frontais, pouco importa, não diminui a gravidade do ato, porque o réu agiu por vingança, haja vista que não conseguiu resolver sua desavença na luta corporal que travou com a vítima!", escreveu Juan Siqueira.
Lembre o caso
Um empresário de 30 anos foi morto a tiros após uma briga em um bar no no dia 26 de outubro, na Vila Bom Jesus, em Rio Preto.
De acordo com o boletim de ocorrência, a confusão começou dentro do bar e evoluiu para agressões físicas na área externa. Testemunhas relataram que a vítima, identificada como Geovani Svolkin da Silva, de 30 anos, discutiu com um rapaz de 25 anos. Após briga na rua, o autor, identificado no boletim de ocorrência como Keven Ígor Silveira Novaes, 25 anos, foi até um veículo Honda Civic preto e pegou uma arma de fogo e efetuou disparos contra Geovani.
Após os tiros, o autor teria se identificado como policial, entrou novamente no carro e fugiu, tomando rumo ignorado. No boletim de ocorrência, porém, ele está qualificado como empresário.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas a equipe apenas constatou o óbito no local.
A perícia técnica da Polícia Científica recolheu cápsulas e projéteis calibre .40 encontrados na cena do crime. A arma pertence ao pai de Keven, que é CAC, e foi apresentada na delegacia dias depois.