MP arquiva caso de envenenamento de funcionária em clínica de Rio Preto
Diversas pessoas foram ouvidas, mas a Polícia Civil esbarrou na falta de câmeras de monitoramento e não conseguiu provar a autoria do crime

O Ministério Público de Rio Preto pediu o arquivamento do inquérito que investigava uma suposta tentativa de envenenamento contra a secretária de uma clínica médica da cidade. Em janeiro, ela foi internada após ingerir chumbinho que foi colocado em um copo térmico utilizado pela vítima para beber água. Entre as hipóteses da investigação estava a rixa entre duas funcionárias e até a intenção da vítima de forjar o próprio envenenamento. Laudo da urina da secretária detectou a presença de aldicarbe, um pesticida.
Para o promotor Gustavo Yamaguchi Miyazaki, ainda que exista indícios de que o chumbinho tenha sido utilizado para matar a vítima, a investigação não conseguiu comprovar a autoria do crime.
Segundo informações do inquérito policial, conduzido pelo delegado André Victor Amorim, da Divisão Especializada de Investigação Criminal (Deic), no dia 16 de janeiro deste ano, a vítima, uma secretária de 47 anos, chegou de manhã no trabalho, em uma clínica do bairro Santos Dumont, pegou seu copo tipo Stanley e, após lavá-lo, colocou água e o tampou.
Durante o turno, ela precisa sair da mesa para pegar fichas de pacientes em outro ambiente. De acordo com a vítima, nesse intervalo alguém teria aproveitado a ausência dela para colocar chumbinho (veneno de rato) no copo.
Ao retornar à mesa, a secretária ingeriu água e imediatamente percebeu que o líquido apresentava sabor amargo, além de partículas pretas.
Sentido suor excessivo e mal-estar, ela foi internada na Unidade de Pronto Atendimento Norte, porém, não precisou de maior suporte médico. Na unidade foram coletados sangue e urina para análise. No sangue, nada foi encontrado. Porém, na urina, testes indicaram a presença de chumbinho.
O copo da secretária, bem como um frasco encontrado no lixo da clínica foram apreendidos pela polícia e periciados. No copo não foi detectada qualquer substância tóxica, porém, no frasco havia aldicarbe, um praguicida.
Em depoimento na Polícia Civil, a secretária contou que sofria assédio moral da gerente da clínica, que chegou a lhe demitir, sendo readmitida por um médico - o que acirrou o ânimo entre as duas.
Outra secretária da clínica afirmou à polícia que, no dia anterior ao crime, a vítima revelou que cuspiu na marmita da gerente.
Intimada, a gerente disse que a secretária atribuía a ela a demissão e que, entre outros funcionários, a vítima direcionava xingamentos a ela. Porém, negou qualquer envolvimento no crime e afirmou suspeitar que a secretária forjou o veneno para incriminá-la.
Diversas pessoas foram ouvidas, incluindo os médicos responsáveis pela clínica, e ninguém soube apontar a autoria do crime. No local também não há câmeras.
“Sendo assim, não apurada a autoria do crime e não vislumbrando outras diligências que possam modificar o cenário retratado nestes autos, o arquivamento é medida que se impõe”, escreveu o promotor Gustavo.
A gerente era representada pelo advogado Juan Siqueira.
“No contexto, foi crucial de nossa análise observar que, enquanto o exame de urina atestava a presença de ‘chumbinho’, o exame de sangue nada detectou. Destaco que a equipe médica cedeu um potinho para a suposta vítima coletar, sozinha, o material de urina, logo pode muito bem ter sido contaminado o pote, enquanto o exame de sangue foi colhido por profissionais da saúde, sem possibilidade de adulteração”, pontuou.
Ao Diário, a secretária disse que o sentimento é de frustração. “Levei todas as informações que eu tinha à polícia e não foi suficiente. Se eu tivesse morrido e deixado meus filhos, seria apenas estatística”, lamentou.