Diário da Região
NOITE FELIZ

Famílias da região de Rio Preto não abrem mão da tradicional reunião de Natal

Todos os anos, se reúnem com todas as gerações em torno de uma mesa farta para comemorar a vida, as pessoas amadas e o nascimento de Jesus

por Millena Grigoleti Barros
Publicado em 23/12/2025 às 21:30Atualizado em 24/12/2025 às 09:35
Na família Repizo, Natal é tradição iniciada pelo irmão mais velho (Álbum de Família)
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Na família Repizo, Natal é tradição iniciada pelo irmão mais velho (Álbum de Família)
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A tecnologia avança, os filhos casam, vêm os netos e até os bisnetos. A tradição, no entanto, permanece intacta - inclusive, até mais forte. O Diário ouviu famílias da região que fazem questão de manter vivo o espírito de Natal. Todos os anos, se reúnem com todas as gerações em torno de uma mesa farta para comemorar a vida, as pessoas amadas (que, mesmo com as perdas no decorrer das décadas, é um número que só aumenta) e o nascimento de Jesus.

Na família da professora aposentada e hoje diretora de escola Maria de Fátima Silva, de 61 anos, a tradição começou quando ela e os quatro irmãos eram pequenos - em épocas bem menos fartas -, com os pais Iracema e Antônio, já falecido. “Eram dias difíceis, os brinquedos não eram os melhores, mas a sensação de estar junto era o melhor. Lembro do cheiro dos primeiros natais. No final, sempre havia cantoria, meu pai e minha mãe cantavam”, conta.

Atualmente, a cantoria continua, com menos dificuldades e mais gente em volta da mesa. Os cinco filhos do casal tiveram dez netos e sete bisnetos. Cada um leva um prato como acompanhamento ou um doce e o churrasco adentra a madrugada da noite de Natal, com a presença da matriarca. “Para mim, a importância é a reunião de família, é estamos juntos. É quando vejo todos os irmãos e sobrinhos. Na nossa festa, não podem faltar cantoria e muitas gargalhadas”, diz Maria de Fátima, a anfitriã deste ano.

Na tradicional família Repizo, de Tanabi, a reunião acontece o ano todo e se torna ainda maior em 24 de dezembro. Donos de uma fábrica e loja de calçados, os nove irmãos mantêm uma cozinha que prepara o almoço para dezenas de pessoas todos os dias. Na cidade pequena, todos moram perto, o que facilita a convivência e o almoço no “quintal” de onde fica a produção. No Natal, a festança é maior ainda e reúne os filhos, genros, noras, netos, bisnetos e amigos da família.

Tudo começou com o primogênito, João, ainda na casa dos pais, João Repizo Nava e Anna Martins Fernandes Nava, ambos já falecidos. Mesmo após a morte dos dois, o ritual permaneceu. “São 32 anos de tradição. À tardezinha a gente faz um churrasquinho no sítio, fica comendo e bebendo com algum convidado amigo. À noite a família começa a chegar para a ceia propriamente dita. São cerca de 70 pessoas”, diz João Anísio Martins Repizo, comerciante de 75 anos e o mais velho dos 9 irmãos.

Para ele, manter a tradição é importante. No Réveillon, a família se dispersa, mas os dias 24 e 25 de dezembro são sagrados. “A gente agradece por tudo que teve de bom no ano e até pelo que foi ruim, mas suportamos. Fazemos uma oração, todos se cumprimentam desejando Feliz Natal e aí começam as festividades. No almoço também nos reunimos”, conta João.

A festa também é grande na casa da enfermeira Valdirene Silva Siqueira, de 47 anos. “A tradição começou há 47 anos, quando meus pais se converteram à igreja evangélica e quiseram comemorar o nascimento de Jesus”, conta. Na família, a tradição é importante por causa da religião, de celebrar o nascimento de Cristo. Pelo menos 60 pessoas se reúnem para festejar. “Não pode faltar louvor, oração, amigo da onça e muita comida gostosa”, conta.

Eternizando laços

Segundo a psicóloga Camila Agnelli Ferreira, as tradições familiares, como celebrar o Natal, são uma forma de passar laços afetivos de geração em geração. Os rituais como orações e músicas marcam cada um, fazendo com que as histórias familiares não se apaguem dos corações.

“Assim, os laços afetivos mais profundos e iniciais da vida se perpetuam. É na família que tudo acontece, os primeiros vínculos, os primeiros afetos, as primeiras inscrições psíquicas são de quem cuidou de nós”, pontua a especialista. As tradições passam esse amor para as novas gerações, que também precisam desses laços.