Perícia conclui que ossos encontrados próximo ao sítio do namorado de Carmen não são humanos
Os fragmentos de ossos foram encontrados no dia 18 de julho próximo à casa de Marcos Yuri Amorim, namorado da jovem que está desaparecida desde 12 de junho; caso é tratado como feminicídio, mas o corpo da vítima não foi localizado

A Polícia Civil de Ilha Solteira confirmou na manhã desta quarta-feira, 24, que os ossos queimados encontrados no dia 18 de julho, próximo à casa de Marcos Yuri Amorim, suspeito de ter matado Carmen de Oliveira Alves, não são humanos. A perícia concluiu que, na verdade, pertenciam a um animal, que ainda não foi identificado.
Os ossos haviam sido encontrados em resíduos de uma fogueira no terreno da casa, no Assentamento Estrela da Ilha.
104 dias desaparecida
Carmen de Oliveira Alves, de 26 anos, mulher transgênero e estudante de Zootecnia, desapareceu no dia 12 de junho, após sair do Campus II da Unesp de Ilha Solteira. Ela foi vista pela última vez pilotando uma bicicleta elétrica.
Após o desaparecimento, a Polícia Civil iniciou as investigações, resultando na quebra de sigilo e interceptação telefônica da vítima e de dois suspeitos — Marcos Yuri Amorim, também estudante de Zootecnia, que mantinha um relacionamento com Carmen; e Roberto Carlos de Oliveira, um policial militar aposentado, que era amante de Marcos Yuri.
Após a análise de todo o material disponibilizado pelas operadoras de telefonia, a polícia constatou que Carmen não havia saído da cidade. O último local onde o celular da jovem teria dado sinal foi no Assentamento Estrela da Ilha, local que o namorado da estudante morava.
Também foram analisadas câmeras de segurança por toda a cidade, entre casas e estabelecimentos comerciais, traçando todo o trajeto feito por Carmen no dia do desaparecimento. Mais uma vez, o último local onde ela foi vista com vida foi no sítio de Marcos Yuri.
Feminicídio
Com base nessa linha de investigação, a polícia passou a tratar o caso como um feminicídio, já que a jovem foi vista chegando ao sítio e não foi vista saindo do local. De acordo com a polícia, as investigações apontam que Marcos Yuri, com a ajuda de Roberto Carlos, teria matado a jovem e ocultado o corpo.
Os dois permaneceram presos durante todo o andamento do inquérito policial.
Motivação
De acordo com o delegado do caso, Miguel Rocha, a motivação do crime seria o fato de que Carmen teria descoberto o envolvimento do namorado com furtos e roubos de fios de cobre em Ilha Solteira, e montado uma pasta com todas as provas em seu computador, como uma espécie de dossiê, utilizando para ameaçá-lo.
Buscas
Após serem confirmados os indícios de que Carmen não havia saído do sítio, a Polícia Civil passou a realizar buscas com apoio da Guarda Civil Municipal (GCM) e do Corpo de Bombeiros por todo o local onde residia Marcos Yuri. Foram feitas buscas no rio São José dos Dourados, que margeia a propriedade, com o auxílio de drones e sonares, e até mesmo com auxílio da Marinha, porém, nada foi encontrado.
A polícia também contou com o apoio de um geólogo da Unesp, que utilizou um aparelho de georradar (GPR) para analisar o solo do sítio. No entanto, novamente, nada foi localizado.
Os únicos indícios encontrados pela Polícia Civil foram os fragmentos de ossos queimados e um celular completamente destruído que pertencia à estudante. O aparelho foi encontrado próximo ao bairro Ipê, às margens de uma rodovia, no dia 31 de julho. Durante as investigações, um sapato de Marcos Yuri e uma lona presente no sítio foram encaminhadas ao Instituto de Criminalística. No dia 20 de agosto, o laudo confirmou que tanto no sapato, quanto na lona apresentavam vestígios de sangue humano, após a confirmação, as amostras foram encaminhadas para examinar se o DNA pertence ao da jovem. Segundo o delegado, este exame demora de cinco a seis meses para sair.
Depoimentos e reconstituição
Durante depoimentos à polícia, Marcos Yuri confessou a participação no crime. No entanto, apontou que a jovem foi morta pelo policial aposentado Roberto Carlos de Oliveira, com quem ele mantinha um relacionamento amoroso. Ainda disse que o PM teria sumido com o corpo.
No entanto, Roberto alegou à polícia que não havia participado do crime, apenas presenciado a jovem já morta ao chegar no sítio, no dia 12 de junho. Ele apontava que o próprio namorado de Carmen teria executado o assassinato.
Em agosto, a reconstituição do caso foi realizada no sítio de Marcos. A reconstituição seguiu a versão apresentada por ambos os suspeitos; no entanto, houve divergências, segundo o delegado.
Na versão apresentada pelo PM aposentado, ele teria chegado ao local do crime e Carmen já estava morta.
Na versão de Marcos Yuri, houve uma discussão entre ele e a vítima. O rapaz alega que sofreu ameaças, porque a jovem queria que assumisse um relacionamento sério, e a discussão acabou se tornando uma briga com agressões. Carmen teria utilizando uma faca, ele teria se defendido, fazendo com que ela caísse no chão, batesse a cabeça e perdido a consciência.
A partir daí, pediu ajuda a Roberto, que já estava a caminho do sítio. Por fim, alega que o policial aposentado deu o golpe fatal na vítima com uma barra de ferro e, em seguida, cortou o pescoço dela.
Conclusão do inquérito
Cinco pessoas foram indiciadas pelo desaparecimento e feminicídio da jovem estudante da Unesp de Ilha Solteira. Dentre eles, Marcos Yuri e Roberto Carlos, como principais responsáveis pelo crime, além de um irmão de consideração de Marcos Yuri, indiciado por falso testemunho, favorecimento pessoal e fraude processual; uma ex-namorada de Marcos Yuri, também indiciada por falso testemunho; e um vizinho de Marcos Yuri, por favorecimento pessoal, ocultação de cadáver e falso testemunho. De acordo com o delegado Miguel Rocha, este último teve participação crucial na ocultação do cadáver de Carmen, além do fato de que os três tentaram atrapalhar as investigações com omissões e negações de informações.
Ameaçada
Após a conclusão do inquérito, a polícia disponibilizou áudios enviados de Carmen para uma amiga contando sobre ameaças que já vinha sofrendo do namorado, Marcos Yuri Amorim.
“Amiga, tive uma briga bem séria, e ele (Marcos Yuri Amorim) me ameaçou de morte. Se acontecer alguma coisa comigo, saiba que foi o Yuri, ele disse que tem arma, que vai me matar, vai me jogar no rio e ninguém vai me achar”, diz a estudante.
Os áudios foram apresentados à polícia logo no início das investigações, no entanto, foram disponibilizados apenas após a conclusão do inquérito para não atrapalhar as investigações, aponta o delegado Miguel Rocha.
*Estagiário sob supervisão de Bruno Ferro