Projeto social divide moradores no Jardim Paraíso, em Rio Preto
Iniciativa prevê instalação de estrutura para atender dependentes químicos e pessoas em situação de rua; vizinhos temem que seja um novo "centro pop"

A iniciativa de um grupo de voluntários em estabelecer uma base para atendimento social a dependentes químicos na região dos bairros Itapema e Jardim Paraíso enfureceu moradores locais após ser ventilada a informação de que se tratava da instalação de um novo Centro Pop - Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua. Inconformadas, dezenas de pessoas, entre moradores e comerciantes, se reuniram na terça-feira, 21, na sede da ONG Nação Valquírias, para protestar.
“Ao contrário do que tem sido dito, o projeto não visa atrair pessoas em situação de rua, ao contrário: queremos tirá-las de lá. Não pela força, mas pelo atendimento humanizado”, afirma o juiz Evandro Pelarin, voluntário no projeto.
Intitulado Paraíso Improvável, o projeto é uma iniciativa do Instituto Gabriela Rodrigues, que obteve autorização da Prefeitura de Rio Preto para utilizar um terreno baldio atrás da UBS Vila Mayor para instalar um contêiner, que ainda está sendo produzido.
“Não haverá construção de qualquer estrutura. O projeto é transitório e só vai dar endereço para um trabalho que já é realizado há dois anos no Jardim Paraíso. Durante as abordagens sociais, verificamos a necessidade de ter uma base para ser um ponto de referência dos voluntários, utilizarmos computadores e oferecermos serviços”, afirma Jaime Sanches, fundador da ONG Gabriela Rodrigues e coordenador da Pastoral da População em Situação de Rua.
Ele explica que o projeto, desvinculado do poder público, pretende não apenas realizar um raio-x sobre o perfil das pessoas em situação de rua no entorno, mas também oferecer suporte para famílias em vulnerabilidade social.
“A nossa missão não é política, mas cristã. Queremos ser um ponto de apoio para pessoas desempregadas, pessoas que buscam tratamento médico ou psiquiátrico, famílias em insegurança alimentar. Contamos com voluntários de todas as religiões, cuja intenção é transformar uma região negligenciada”, diz.
Jaime acrescenta ainda que o espaço será utilizado para eventos comunitários, como Dia da Criança.
Amanda Oliveira, CEO do Instituto Nação Valquírias, se uniu ao propósito e, durante o protesto de moradores, reuniu o grupo na sede da ONG para esclarecer dúvidas e ouvir opiniões.
“A comunidade está machucada com a onda de furtos e a insegurança, então vejo como positiva a mobilização que aconteceu, porque demonstrou que a população quer participar desse processo, ser ouvida. Vamos bater cabeça, mas iremos chegar juntos a soluções”, afirmou.
Juiz da Vara da Infância e Juventude e articulador do mutirão Pop Rua Jud, Evandro Pelarin acredita que a expertise dos voluntários será estratégica para identificar os desafios e promover transformações.
“Somente no último mutirão, internamos 11 pessoas voluntariamente e uma compulsoriamente. É um erro pensar que queremos moradores de rua ali, quando a intenção é justamente oposta. Vamos resgatá-los para a dignidade, por meio do trabalho, do tratamento e da retomada dos vínculos familiares”, diz.
O funileiro Romeu Nascimento possui uma oficina em frente ao terreno há 28 anos. Ele participou do protesto dos moradores e se opôs à iniciativa.
“Antes eu realizava cinco orçamentos por dia. Hoje, ninguém estaciona em frente ao meu comércio por medo das pessoas que ficam sentadas em volta. Os usuários de drogas não querem ser ajudados”, diz. No entanto, ele diz que dará um voto de confiança aos voluntários porque, em anos de degradação, é o primeiro movimento que se propôs a resolver o problema da região.