Projeto social para o Itapema tem avanço após reunião em Rio Preto
Em reunião, foi proposto a inclusão da pauta da Segurança Pública como prioritária para que alternativas possam ser discutidas

A discussão sobre a instalação de um projeto social para suporte a pessoas em vulnerabilidade social e dependência química no bairro Jardim Itapema avançou nesta sexta-feira,6, com a proposta de incluir a pauta da Segurança Pública como prioritária para que alternativas possam ser discutidas.
A convite do juiz Evandro Pelarin, cerca de 30 moradores dos bairros Itapema, Jardim Paraíso e Vila Mayor se reuniram com representantes do legislativo municipal, polícias Civil e Militar e Guarda Municipal no Fórum Cível para que pudessem compartilhar opiniões contrárias e favoráveis sobre a ação social, proposta pela missão Rafaela Rodrigues, de instalar uma base móvel (contêiner ) atrás da UBS Vila Mayor para realizar processos de escuta e encaminhamento de dependentes químicos a tratamento de toxicológico, psicológico e encaminhamento ao mercado de trabalho. Embora seja um projeto desenvolvido por voluntários de diversas igrejas, a iniciativa é confundida com a instalação de um Centro Pop, que é um equipamento público administrado pela Secretaria de Assistência Social.
Assim como aconteceu no bairro Boa Vista, a preocupação de moradores como Marcelo Faria Jacomeli é que o serviço atraia ainda mais dependentes químicos para a região.
"Com o fechamento do Centro Pop no Centro, onde os moradores de rua irão ? Para onde houver comida, banho. A região Norte está finalmente sendo valorizada com shopping, empreendimentos. Não queremos dar um passo pra trás", disse.
Durante o encontro, a comerciante Valeska Gomes de Brito compartilhou a rotina de pequenos furtos na padaria que administra há 22 anos no Itapema.
"A decepção é que somos furtados por moradores de rua que ajudamos, que damos alimento. E se a gente denuncia à polícia, eles saem da cadeia e ameaçam se vingar" acrescentou.
A fala da comerciante foi a brecha para moradores favoráveis ao projeto social argumentarem que a concentração de dependentes químicos (e consequentemente criminosos ) na região é um problema histórico, e que a ong Gabriela Rodrigues representa uma esperança de solução, uma vez que pode separar traficantes e ladrões do grupo de usuários de drogas que querem ou podem ser ajudados, inclusive com previsão internação compulsória.
"Quem conhece a realidade das áreas de violência sabe que criminosos fogem de lugares onde há limpeza, iluminação, projetos sociais, promotores, juízes e segurança pública engajados" argumentou a monitora Joselaine Guedes, moradora do Itapema.
Um momento emocionante da reunião foi o relato de uma jovem trans de 19 anos que foi resgatada do Jardim Paraíso por meio do trabalho da ong Gabriela Rodrigues e do mutirão Pop Rua Jud.
"Vivia com a minha tia, mulher negra e analfabeta, que é dependente química e se prostituía. Ela me dizia que era a única forma de a gente sobreviver. Com 17 anos eu comecei a me prostituir também, mas foram esses voluntários que me mostraram um caminho de esperança. Fui para um abrigo, pude estudar e hoje trabalho. Porque se dependesse do poder público ou da comunidade local, eu ainda estaria me prostituindo", desabafou.
Durante o encontro, Pelarin apresentou a comunidade a presidente do Conselho Municipal de Segurança Pública da região Norte (Conseg), Rebeca Cortez.
Ela explicou que realiza reuniões mensais com moradores, em áreas públicas como praças e centros esportivos, para discutir demandas da Segurança Pública.
"Na última reunião, debatemos sobre o furto de fios de cobre e, dessa conversa resultou uma operação conjunta das polícias que apreendeu 400 quilos de fios, além de identificar receptadores e criminosos ", explanou.
Segundo ela, nos 48 bairros da cidade que aderiram ao programa Vizinhança Solidária, em parceria com a PM, houve redução de 80% na criminalidade.
"Deste bairro, quem participou de alguma reunião do Conseg?", provocou.
Convidado a participar do debate, o vereador João Paulo Rillo frisou que é legítima a preocupação dos moradores com essa iniciativa.
"Não se trata de preconceito com a população em situação de rua, mas do medo das situações de abstinência que levam esse público ao cometimento de crimes e a atos de violência. É preciso que o poder público cheguei primeiro ao local e garanta segurança para que a Ong possa trabalhar " , sugeriu.
A reunião foi encerrada com a proposta de mais um encontro, dessa vez liderado pelo Conseg, na ong Valquírias para ouvir as demandas de Segurança Pública da população local.
"A minha posição é de que algo precise ser feito. Não há dispositivo na lei que proíba o poder público de agir, se for para garantir direitos humanos. Se essa discussão não avançar, vou ao Ministério Público cobrar providências para que ações sejam promovidas no Jardim Paraíso, visando a assistência de grupos vulneráveis que lá se encontram", finalizou.