Zoo de Rio Preto e PM Ambiental se unem na missão de salvar animais
Só neste ano, 554 animais foram resgatados na região, socorridos e tratados no Zoobotânico de Rio Preto; são vítimas de desastres ambientais, atropelamento, tráfico e até do descuido de agricultores

Desde o início do ano, até a última quarta-feira, 15, a Polícia Militar Ambiental resgatou 554 espécies, entre aves, mamíferos e répteis vítimas de desastres ambientais, atropelamento ou tráfico na região de Rio Preto. Todos direcionados para atendimento no Zoobotânico. O trabalho das equipes é voltado para a reintrodução dos animais à natureza.
Em 106 casos, as espécies retornaram ao seus habitats e apenas seis compõem o plantel do zoológico. É justamente essa a missão dos veterinários e biólogos com dois filhotes de onça-parda resgatados na última sexta-feira, 10, após serem encontrados por funcionários de uma usina em Monte Aprazível.
“É comum o encontro de animais silvestres e ninhos em meio às plantações. O ideal é que a colheita fosse suspensa por algumas horas, porque sabemos que a onça mãe voltaria para resgatar os filhotes, mas não é isso que acontece. E não há legislação que obrigue os agricultores a aguardarem”, explica o tenente Fábio Leme.
DESAFIO
O desafio de reintrodução de filhotes de animais carnívoros de grande porte, segundo ele, consiste na dificuldade de o animal aprender a caçar – condição essencial para a sobrevivência na natureza. Esse trabalho é realizado por ONGs como a SOS Mata Atlântica, mas cujo transporte enfrenta dificuldades logísticas e orçamentárias.
Enquanto a questão é pensada por técnicos, a duplinha de onças (um macho e uma fêmea) é tratada com amor na “maternidade”, departamento do Zoobotânico que acolhe filhotes, com equipamentos especiais que garantem a umidade e a temperatura ideal.
“MATERNIDADE”
“No Zoobotânico temos uma clínica que recebe os animais trazidos pela Polícia Ambiental. Os filhotes são levados para a maternidade pensando justamente que eles estão longe das mães. A mãe aquece, ela abre as asas, quando são mamíferos, lambe para estimular. O nosso olhar é para tentar amenizar esse papel tão importante no ecossistema”, diz Camila Sparvoli, administradora do Zoobotânico.
Entre os grupos de animais atendidos, as aves lideram o número de entradas, com 367 registros (70%), seguidas de 146 mamíferos (28%) e 12 répteis (2%). “A maior parte chegou ao Zoo vítima de traumas — 275 casos —, o que representa mais da metade dos atendimentos. Outros 188 animais eram filhotes órfãos, 17 foram entregues voluntariamente, 9 vieram de apreensões da Polícia Ambiental, 8 por causas nutricionais e 28 chegaram hígidos, ou seja, sem ferimentos ou doenças”, explica a médica veterinária do Zoobotânico, Natasha Fujii Ando.
Os principais motivos de trauma foram atropelamentos (45 casos), ataques de outros animais (17), maus-tratos (15), intoxicações (8) e queimaduras ou choques elétricos (4), além de 186 traumas diversos decorrentes de colisões, quedas e acidentes com fios e estruturas urbanas.
PERDAS
Apesar da dedicação e esforço das equipes, grande parte dos animais atendidos não resiste aos ferimentos ou maus-tratos. Neste ano, do total de resgates realizados, mais da metade morreu ou teve de ser eutanasiado em função do sofrimento. Eles representam 344 casos.
O tenente complementa que parte dos resgates também resulta de operações contra o tráfico de animais silvestres. “Nesses casos, realizamos a detenção dos indivíduos envolvidos, aplicamos multas e resgatamos os animais para tratamento e avaliação veterinária. Se o animal estiver em condições, a soltura imediata é realizada. Caso contrário, ele recebe tratamento para que possa ser solto na natureza posteriormente”, diz.
Entre os animais que passaram a integrar o plantel fixo em 2025 estão espécies emblemáticas e de relevância para a conservação, como duas harpias (gaviões-reais) encaminhadas pelo Cetas/Ibama de São Francisco de Paula (RS), uma onça-pintada vinda do Bio Parque Vale Amazônia (PA) e três tamanduás-bandeira órfãos resgatados em diferentes municípios paulistas.