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CINEMA

‘Alice’ estreia no Festival do Rio após prêmio no Hot Docs e qualificação para o Oscar

Filme de Gabriel Novis, qualificado ao Oscar 2026, retrata jornada de superação e pertencimento de uma artista trans

por Núcleo Digital
Publicado em 26/09/2025 às 14:02Atualizado em 26/09/2025 às 14:02
Curta de Gabriel Novis dá protagonismo à multiartista trans alagoana Alice Barbosa em relato de luto, memória e resistência (Reprodução)
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Curta de Gabriel Novis dá protagonismo à multiartista trans alagoana Alice Barbosa em relato de luto, memória e resistência (Reprodução)
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A travessia das ondas virou metáfora para a vida. Depois de conquistar o prêmio de Melhor Documentário Internacional de Curta-Metragem no Hot Docs, no Canadá — a mais importante vitrine do gênero na América do Norte — e garantir qualificação para disputar o Oscar de 2026, o curta brasileiro “Alice”, dirigido por Gabriel Novis, faz sua estreia nacional no Festival do Rio, dentro da mostra competitiva Première Brasil: Curtas.

O filme acompanha a trajetória da multiartista trans alagoana Alice Barbosa, que retorna ao surfe como forma de elaborar o luto pela morte do pai. Narrada pela própria protagonista, a obra mistura lembranças da infância e da juventude em Alagoas, num percurso que é ao mesmo tempo físico e simbólico, confrontando a misoginia, a elitização e a transfobia presentes tanto na cultura do esporte quanto na sociedade brasileira.

Mais do que um relato pessoal, “Alice” integra uma geração do cinema nacional que busca dar voz a personagens historicamente silenciados. Ao colocar no centro da narrativa uma mulher trans nordestina, o curta rompe com estereótipos e apresenta uma visão rara: a de uma vida trans plena, atravessada por arte, afeto, esporte e pertencimento.

Além de sua relevância social, o trabalho consolida a estética autoral de Novis, que constrói um retrato íntimo e lírico da protagonista, sua amiga de infância. O resultado é uma combinação de aventura, memória e poesia visual. “Trazer o nosso filme ao Brasil pela primeira vez no Festival do Rio é um grande privilégio. Acompanhamos com muito orgulho o impacto positivo que a obra teve em sua passagem por festivais internacionais e os debates que levantou dentro da comunidade do surfe brasileira. Estamos felizes por ampliar este diálogo dentro de um palco tão importante”, afirmou o diretor.

Premiado no exterior, o curta já percorreu festivais como Sheffield Doc Fest (Inglaterra), Festival Internacional de Guadalajara (México) e Melbourne International Film Festival (Austrália). Em outubro, terá estreia nos Estados Unidos, com exibição no Linwood Dunn Theater, em Los Angeles, em sessão organizada pelo Bravo Film Festival — o mesmo evento que apresentou “Ainda Estou Aqui” ao público americano antes da vitória no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

“Alice” é uma coprodução da Los Films com a produtora MyMama Entertainment, conhecida por títulos como “Medusa”, exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes, “Amarela”, indicado à Palma de Ouro de Melhor Curta-Metragem, e “Vitória”, produção Original Globoplay estrelada por Fernanda Montenegro.

Mais do que um filme, “Alice” se apresenta como um manifesto pela visibilidade, pelo direito à vida e pelo reconhecimento da diversidade brasileira — agora refletida na tela grande.