Como quem carrega no corpo a rua, a música e a memória, a Cênica atravessa o Atlântico com sua arte feita de Shakespeare, Roberto Carlos e afetos brasileiros. Do interior de São Paulo ao coração da Escócia, o grupo de Rio Preto estreia no Fringe, o maior festival de artes do mundo, com uma versão bilíngue de “Queijo com Goiabada ou Romeu e Julieta” (no inglês, “Cheese and Guava or Romeo and Juliet”), versão internacional do espetáculo “Queijo & Goiabada, das canções que você não autorizou pra mim”, que estreou em 2016.

A trupe rio-pretense embarca no dia 25 de julho para uma temporada no salão principal da Summerhall Arts, principal organização artística de Edimburgo, que compreenderá todo o período do festival, realizado entre os dias 1º e 25 de agosto. A companhia integra a caravana do Governo do Estado de São Paulo no “São Paulo Showcase”, ação da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.

O ESPETÁCULO

Com dramaturgia de Clara Roncati; direção de Fagner Rodrigues; direção musical, preparação vocal e direção de texto de Babaya Morais; e elenco-criador formado por Beta Cunha, Diego Guirado, Fabiano Amigucci, Fagner Rodrigues, Glauco Garcia, Márcia Morelli e Vanessa Palmieri, a Cênica parte do clássico shakespeariano e de canções românticas de Roberto Carlos para rever seu percurso artístico para a composição da obra.

Inspirado no clássico “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, e em canções românticas do “rei” Roberto Carlos, o espetáculo trafega entre o drama e a sátira, o plágio e o afeto, o trágico e o quase ridículo. Ao unir a literatura tradicional britânica à música popular brasileira, a montagem costura referências e desafetos, em um retrato crítico e bem-humorado das formas de amar — embalado por um dueto entre o sal do queijo e o doce da goiabada.

Para acompanhar o processo, a companhia convidou o diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi, com quem teve o primeiro encontro em junho, em Rio Preto.

“É uma conquista histórica que reconhece nossa trajetória de muito trabalho. Fazer uma temporada de quase um mês no maior festival de teatro do mundo representando o interior do estado é fantástico”, diz Fagner Rodrigues. Em 2024, ele foi um dos artistas selecionados pelo edital CreativeSP, o que lhe permitiu conhecer o Fringe por dentro, sonhar e, um ano depois, transformar o desejo em realidade. “Ano passado vi o quanto o festival é gigante e sonhei com a presença de um espetáculo da Cênica. É a realização de um sonho que parecia impossível”, completa.

A montagem foi escolhida pela curadoria da própria Summerhall. Segundo Tom Forster, programador da casa, a combinação brasileira surpreendeu. “Estamos muito satisfeitos em fazer parte da vitrine de São Paulo aqui na Summerhall Arts com ‘Queijo com Goiabada ou Romeu e Julieta’. Como o lar de novos escritos no festival, as reimaginações de Shakespeare geralmente não estão no menu — mas essa bela e caótica mistura de música latina e drama ocidental é irresistível e será um sucesso infalível com o público do Summerhall”, diz.