Diário da Região
ESPETÁCULO

Inspirada em Dom Quixote, peça da Cia. Casa Amarela estreia no Sesc Catanduva

“Quem dera ser Quixote!”, da Cia. da Casa Amarela, estreia na quinta, 31, no Sesc Catanduva e celebra os 30 anos do premiado grupo

por Salomão Boaventura
Publicado em 28/07/2025 às 21:07Atualizado em 29/07/2025 às 08:37
Cia. da Casa Amarela comemora seus 30 anos de trajetória premiada com “Quem dera ser Quixote!”, uma inusitada versão do clássico de Miguel de Cervantes (Divulgação)
Cia. da Casa Amarela comemora seus 30 anos de trajetória premiada com “Quem dera ser Quixote!”, uma inusitada versão do clássico de Miguel de Cervantes (Divulgação)
Ouvir matéria

Em cena, o delírio lúcido de um cavaleiro sonhador. Fora dela, três décadas de uma trajetória poética, premiada e visceral. A Cia. da Casa Amarela estreia, na próxima quinta-feira, dia 31, às 20h, no Sesc Catanduva, o espetáculo “Quem dera ser Quixote!”, uma releitura sensível e bem-humorada do clássico de Miguel de Cervantes, que marca os 30 anos do grupo fundado pelos artistas Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues.

Reconhecida nacional e internacionalmente por seu trabalho voltado ao público infantil e familiar — e, desde 2016, também para bebês —, a companhia catanduvense construiu uma estética autoral, que cruza lirismo, profundidade e inteligência cênica. “Quem dera ser Quixote!” é, ao mesmo tempo, celebração e manifesto: um convite à resistência por meio da imaginação, da leitura e do teatro.

ENREDO

Segundo os criadores, a peça vem de encontro a uma realidade triste e preocupante: o desinteresse da sociedade pela leitura e pela cultura. E propõe a retomada dos nossos “loucos” ideais num tempo cada vez mais negativo e pragmático.

“Já citamos Dom Quixote em duas peças, ‘Candim’ e ‘Emília: a vida é um pisca-pisca’, além de repetidas vezes termos considerado produzir a magnífica história de Cervantes. Porém, é um desafio enorme que precisou anos de pesquisa, reflexão e maturação”, diz Drika, que interpreta Dona, uma faxineira de biblioteca.

IMERSÃO

Para se aprofundar na alma de Cervantes, o grupo foi à Espanha em 2024, numa viagem de pesquisa que passou por Madri, Toledo, Andaluzia e a cidade natal do autor, Alcalá de Henares. “Para os espanhóis, Cervantes é um herói nacional e muito respeitado, cultuado, fazendo de Dom Quixote em símbolo com o qual você esbarra em todos os cantos. Incrível a veneração à obra, ao autor e à personagem. Então, resolvemos conhecer de perto a cidade de Alcalá de Henares, onde Cervantes nasceu e onde sua casa natal é um museu, bem como Toledo, Madri e Andaluzia”, explica o ator Carlinhos Rodrigues que incorpora Quixote no espetáculo.

A imersão também serviu à criação de “Luna”, peça para bebês inspirada no universo de Federico García Lorca — outro gênio espanhol que acompanha a trajetória do grupo desde seus primeiros passos.

Além disso, o filho do casal, Ian Costa, que desde os 6 anos de idade já sobe ao palco com os pais, se serviu da viagem para fortalecer suas criações musicais e produção da trilha sonora para as duas montagens.

“Uma coisa é você ouvir a música espanhola, seja medieval ou o flamenco. Outra coisa é vivenciar presencialmente, ao vivo, nas cavernas ou tablados dos teatros na Espanha, ou ainda nas ruas e guetos, onde estão os mais originais e autênticos músicos, cantores e dançarinos. A música, a alma e a arte deste povo merecem um mergulho muito mais profundo. Trocar com essa gente tão autêntica e vive sua cultura de forma tão visceral foi fundamental para “Luna” e “Quem dera ser Quixote!”. A maior experiência da minha vida até aqui”, comenta Ian, que cursa Licenciatura em Música na Unicamp atualmente.

Com três prêmios da APCA e três Troféus Mambembe, além de mais de cem reconhecimentos em festivais nacionais, a Cia. da Casa Amarela reafirma, com “Quem dera ser Quixote!”, sua busca por uma arte sensível, comprometida e ousada — que respeita a inteligência do público, seja ele bebê, criança, jovem ou adulto.

“Chegar aos 30 anos mantendo a ousadia dos temas e abordagens, com um trabalho de ator, dramaturgia e estética profissionais, inteligentes, sensíveis e delicadas não é tão simples, principalmente numa fase tão complexa pela qual estamos passando hoje”, diz Carlinhos. “O teatro para crianças pede respeito, temática, inteligência, sensibilidade e poesia que saiam da teoria de muitos teatrólogos e produtores e sejam levadas para o palco, com vida, emoção e entrega”, conclui Carlinhos.

Depois da estreia em Catanduva, o espetáculo segue para o Sesc Piracicaba, no dia 2 de agosto, e já tem apresentação agendada no Sesc Mogi das Cruzes, em setembro. Também passará por escolas e outras cidades no projeto Teatro Escola.

Além de Drika, Carlinhos e Ian, “Quem dera ser Quixote” conta com Jone Vieira na iluminação e sonoplastia, a assistência na produção de Carol Chiodini, as fotos de Vivian Gradela, e a maquiagem de Lara Misiaji. Toda produção cenográfica, de figurinos e adereços é assinada pela Cia. da Casa Amarela.