Inspirada em Dom Quixote, peça da Cia. Casa Amarela estreia no Sesc Catanduva
“Quem dera ser Quixote!”, da Cia. da Casa Amarela, estreia na quinta, 31, no Sesc Catanduva e celebra os 30 anos do premiado grupo

Em cena, o delírio lúcido de um cavaleiro sonhador. Fora dela, três décadas de uma trajetória poética, premiada e visceral. A Cia. da Casa Amarela estreia, na próxima quinta-feira, dia 31, às 20h, no Sesc Catanduva, o espetáculo “Quem dera ser Quixote!”, uma releitura sensível e bem-humorada do clássico de Miguel de Cervantes, que marca os 30 anos do grupo fundado pelos artistas Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues.
Reconhecida nacional e internacionalmente por seu trabalho voltado ao público infantil e familiar — e, desde 2016, também para bebês —, a companhia catanduvense construiu uma estética autoral, que cruza lirismo, profundidade e inteligência cênica. “Quem dera ser Quixote!” é, ao mesmo tempo, celebração e manifesto: um convite à resistência por meio da imaginação, da leitura e do teatro.
ENREDO
Segundo os criadores, a peça vem de encontro a uma realidade triste e preocupante: o desinteresse da sociedade pela leitura e pela cultura. E propõe a retomada dos nossos “loucos” ideais num tempo cada vez mais negativo e pragmático.
“Já citamos Dom Quixote em duas peças, ‘Candim’ e ‘Emília: a vida é um pisca-pisca’, além de repetidas vezes termos considerado produzir a magnífica história de Cervantes. Porém, é um desafio enorme que precisou anos de pesquisa, reflexão e maturação”, diz Drika, que interpreta Dona, uma faxineira de biblioteca.
IMERSÃO
Para se aprofundar na alma de Cervantes, o grupo foi à Espanha em 2024, numa viagem de pesquisa que passou por Madri, Toledo, Andaluzia e a cidade natal do autor, Alcalá de Henares. “Para os espanhóis, Cervantes é um herói nacional e muito respeitado, cultuado, fazendo de Dom Quixote em símbolo com o qual você esbarra em todos os cantos. Incrível a veneração à obra, ao autor e à personagem. Então, resolvemos conhecer de perto a cidade de Alcalá de Henares, onde Cervantes nasceu e onde sua casa natal é um museu, bem como Toledo, Madri e Andaluzia”, explica o ator Carlinhos Rodrigues que incorpora Quixote no espetáculo.
A imersão também serviu à criação de “Luna”, peça para bebês inspirada no universo de Federico García Lorca — outro gênio espanhol que acompanha a trajetória do grupo desde seus primeiros passos.
Além disso, o filho do casal, Ian Costa, que desde os 6 anos de idade já sobe ao palco com os pais, se serviu da viagem para fortalecer suas criações musicais e produção da trilha sonora para as duas montagens.
“Uma coisa é você ouvir a música espanhola, seja medieval ou o flamenco. Outra coisa é vivenciar presencialmente, ao vivo, nas cavernas ou tablados dos teatros na Espanha, ou ainda nas ruas e guetos, onde estão os mais originais e autênticos músicos, cantores e dançarinos. A música, a alma e a arte deste povo merecem um mergulho muito mais profundo. Trocar com essa gente tão autêntica e vive sua cultura de forma tão visceral foi fundamental para “Luna” e “Quem dera ser Quixote!”. A maior experiência da minha vida até aqui”, comenta Ian, que cursa Licenciatura em Música na Unicamp atualmente.
Com três prêmios da APCA e três Troféus Mambembe, além de mais de cem reconhecimentos em festivais nacionais, a Cia. da Casa Amarela reafirma, com “Quem dera ser Quixote!”, sua busca por uma arte sensível, comprometida e ousada — que respeita a inteligência do público, seja ele bebê, criança, jovem ou adulto.
“Chegar aos 30 anos mantendo a ousadia dos temas e abordagens, com um trabalho de ator, dramaturgia e estética profissionais, inteligentes, sensíveis e delicadas não é tão simples, principalmente numa fase tão complexa pela qual estamos passando hoje”, diz Carlinhos. “O teatro para crianças pede respeito, temática, inteligência, sensibilidade e poesia que saiam da teoria de muitos teatrólogos e produtores e sejam levadas para o palco, com vida, emoção e entrega”, conclui Carlinhos.
Depois da estreia em Catanduva, o espetáculo segue para o Sesc Piracicaba, no dia 2 de agosto, e já tem apresentação agendada no Sesc Mogi das Cruzes, em setembro. Também passará por escolas e outras cidades no projeto Teatro Escola.
Além de Drika, Carlinhos e Ian, “Quem dera ser Quixote” conta com Jone Vieira na iluminação e sonoplastia, a assistência na produção de Carol Chiodini, as fotos de Vivian Gradela, e a maquiagem de Lara Misiaji. Toda produção cenográfica, de figurinos e adereços é assinada pela Cia. da Casa Amarela.