Diário da Região
PRIMEIROS ACORDES

Alunos do Dom Bosco lançam álbum autoral criado em sala de aula

Iniciativa conduzida pelo músico e professor Esdras Nunes registra, em álbum de 10 faixas, composições originais feitas coletivamente por alunos de 4 a 12 anos do Colégio Dom Bosco, de Monte Aprazível

por Salomão Boaventura
Publicado em 20/11/2025 às 03:02Atualizado há 1 hora
O professor Esdras Nunes com alunos do Colégio Dom Bosco protagonistas do álbum “Jardim de Canções”, que transformou salas de aula em estúdios e levou (Divulgação)
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O professor Esdras Nunes com alunos do Colégio Dom Bosco protagonistas do álbum “Jardim de Canções”, que transformou salas de aula em estúdios e levou (Divulgação)
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As vozes miúdas que costumam ecoar pelos corredores do Colégio Bom Bosco, de Monte Aprazível, ganharam outro destino neste ano: viraram músicas, memória e registro. Nas aulas do professor e músico Esdras Nunes, crianças do Pré 1 ao 6º ano do ensino fundamental, com idades de 4 a 12 anos, descobriram que também podem compor, cantar, gravar e deixar suas criações guardadas para sempre, do jeito que se faz com aquilo que é importante.

Há quase 30 anos atuando com música, Esdras já trabalhou com nomes como Dudu Nobre, Daniel, Sérgio Reis, entre outros artistas. Juntando essa experiência com a sala de aula, ele decidiu transformar a rotina de suas dez turmas em um pequeno laboratório de criação musical.

Jardim de canções

Palavras soltas viraram versos; versos, melodias; melodias, canções inteiras. Cada sala compôs a própria faixa, resultando no álbum “Jardim de Canções”, com dez músicas feitas coletivamente pelos estudantes.

“Esse lado meu de estúdio, de profissionalização, de registrar uma música, de colocar no Spotify e nas plataformas digitais, por exemplo, eu levei para a sala de aula e deu super certo. Para os alunos foi muito bom, porque é uma obra que eles tão fazendo que é para a vida inteira. Está registrado no nome deles”, conta.

Segundo Esdras, as músicas contam com registro de ISRC (International Standard Recording Code ou Código Internacional de Normatização de Gravações) “Esse código é uma como se fosse um RG da música. Ele contém todas as informações, quem compôs, quem gravou, quem cantou, quem tocou o instrumento”, explica.

“Vamos supor que essa música comece a andar, que as pessoas comecem a ouvir, nisso vai ter direitos autorais para esses alunos. Até eu falo para eles, daqui a 20 anos, um vai ser médico, outro vai ser jogador de futebol, o outro vai trabalhar na área de informática. Esses alunos vão ter essa recordação para a vida inteira”, completa Esdras.

O processo seguiu a metodologia que o professor vem aperfeiçoando ao longo da carreira: primeiro, a escuta — sentimentos positivos que os alunos associavam ao cotidiano. Depois, a costura das frases, a construção da letra, a moldura harmônica e, por fim, a descoberta mais esperada: gravar a própria voz, escutá-la no fone, reconhecê-la no mundo digital.

“Os alunos tiveram a oportunidade de compor e a experiência de gravar sua voz, ouvir sua voz e registrar esse momento que ficará pra sempre, colocando o aluno como protagonista e passando por todos os passos da música: compor, gravar, publicar e apresentar”, diz Esdras.

Lançamento

As músicas serão lançadas nas plataformas de áudio — incluindo o Spotify — e também no palco. O álbum Jardim de Canções”, do Colégio Dom Bosco terá duas apresentações de estreia, nos dias 24 e 25, no teatro do Centro Cultural de Monte Aprazível, a partir das 19h. A apresentação é aberta ao público.

“Os alunos estão bem empolgados por conta da apresentação e do lançamento do álbum. Está sendo uma experiência muito boa, até melhor do que eu esperava”, ressalta.

A iniciativa rendeu elogios de quem acompanha o trabalho de Esdras há décadas. O músico e historiador Fernando Marques se emocionou com o alcance do projeto.

“Poxa vida. Que sorte dessa rapaziada. Ter um mestre e orientador como Esdras Nunes, que hoje é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores músicos de todo interior e até do Brasil, é uma dádiva para poucos. E olha só que ousadia! Os alunos tiveram a oportunidade única de compor, gravar suas vozes, publicar e ouvir suas composições prontas na plataforma musical Spotify, uma das mais populares em todo mundo. E olha que são alunos do pré, do 1º ao 6° ano. É bom lembrar que até o final da década de 1970, ainda tínhamos aula de música nas escolas. Hoje, ‘neca de pitibiribas’. Parabéns à direção da escola e ao mestre Esdras Nunes, o qual tive oportunidade única de fazer parte da bancada da sua formatura no conservatório musical que o formou. Aplausos”, comemora.

O projeto, que reúne criação coletiva, educação musical e memória afetiva traz um repertório que nasce da simplicidade e termina em palco — como toda boa canção já um dia sonhou ser.