Diário da Região

São Paulo se explica ao Ministério Público

O MP-SP questionou o São Paulo sobre quatro pontos destacados na denúncia anônima apresentada ao órgão

por Agência Estado
Publicado em 09/12/2025 às 21:54Atualizado em 10/12/2025 às 10:00
Júlio Casares respondeu a denúncia de gestão temerária no São Paulo  (Érico Leonan/São Paulo FC)
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Júlio Casares respondeu a denúncia de gestão temerária no São Paulo (Érico Leonan/São Paulo FC)
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O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recebeu uma denúncia anônima contra o São Paulo por gestão temerária, ou seja, que pode causar prejuízos financeiras e institucionais ao clube. A direção não descarta que o caso tenho cunho político.

Em nota oficial, o São Paulo informou que respondeu aos questionamentos do órgão e está à disposição do órgão para novos esclarecimentos. Até o momento, nenhum inquérito foi instaurado para averiguar o caso.

O MP-SP questionou o São Paulo sobre quatro pontos destacados na denúncia: venda de atletas da base abaixo do valor de mercado; déficit de R$ 287 milhões na temporada 2024; processo ilícito na parceria com a Galápagos no Fundo de Cotia; possível conflito de interesses no fato de o filho do presidente Julio Casares ser sócio de Aref Abdul Latif, agente de jogadores vinculados ao clube, em uma empresa do ramo para pets.

A reportagem conversou com o Guilherme Salutti, advogado do São Paulo, que explicou as respostas do clube.

VENDA DE ATLETAS

“Falar em valor de mercado para atleta não é correto. A gente não tá tratando aqui de veículo nem de imóvel, por exemplo. O jogador vale aquilo que o mercado tá pagando e vale aquilo que o clube que vende tá aceitando para vender, certo? Então a gente mostrou para o Ministério Público que a pista tá salgada para todo mundo. O mercado tá pagando mais ou menos o mesmo para atletas parecidos”.

“Fizemos um trabalho de scout comparando a venda de nossos jogadores com outras feitas por Flamengo e Fluminense, por exemplo, e mostramos que os valores praticados estavam em linha com o mercado.”

DÉFICIT EM 2024

O clube fez duas linhas de defesa: uma técnica, sobre a dificuldade de responder à acusação de gestão temerária, e outra explicando o motivo do déficit.

“A defesa estava inviabilizada porque o autor da notícia de fato não individualizou condutas nem apontou autoria. Eu não consigo discutir a legitimidade dos feitos. Gestão temerária requer dolo (intenção deliberada) de prejudicar o clube, o que não foi alegado de forma específica. Gestão temerária é o dirigente usar o clube com a intenção deliberada dolo para prejudicar o clube ou terceiros.”

“O déficit se deu porque o orçamento de 2024, elaborado após o título da Copa do Brasil em 2023, foi muito ambicioso, prevendo grandes verbas de premiações em competições e grandes verbas com vendas de atletas. O clube não conseguiu atingir essas metas, ao ser eliminado nos torneios e os jogadores que tinham maior mercado, como Pablo Maia, se machucaram, impedindo as vendas”.

PARCERIA

“O objeto do projeto não era ilícito. A alegação de que ele implicaria compartilhamento de direitos econômicos, vedado pela Fifa, não era o caso. O projeto visava a segregação da unidade de negócio da categoria de base para que ela operasse sob um novo CNPJ. O investidor colocaria dinheiro nesse CNPJ, e o lucro gerado seria dividido, sendo 30% para o investidor e 70% para o São Paulo.”

O projeto foi suspenso pela diretoria em razão do mau momento do time de futebol e em razão da necessidade de dar uma atenção maior, de direcionar o foco planejamento de 2026. O clube informou que ele está no ‘congelador’ e não deve ser retomado em 2026 devido ao ano eleitoral.

CASARES

O caso foi explicado como uma coincidência. O filho de Casares e Aref eram amigos e, em 2020, durante pandemia, planejaram uma plataforma de serviços e produtos para pets. “Eles eram amigos o ano passado, pensaram em projetar uma empresa de pets, chegaram a criar um CNPJ, mas o CNPJ nunca operou, não teve movimentação financeira.”

Uma investigação interna de compliance entrevistou os treinadores da categoria de base que aprovaram os meninos trazidos por Aref. Os treinadores atestaram a inexistência de interferência externa ou conflito de interesses. Cerca de oito jogadores do agente integram categorias sub-13 do clube.

“Esses meninos tinham performance, foram submetidos ao procedimento, passaram na peneira e as categorias de base e o Julinho (Casares) nunca veio aqui apitar, a gente nem conhece o Julinho. A gente teve uma segunda chancela de que não tem nada de conflito de interesse e é tudo só uma coincidência.”