'Braço direito' de Dinorath do Valle, Luzia morre aos 73 anos
Luzia Pereira dos Santos trabalhou na casa da família da escritora Dinorath do Valle por mais de 30 anos; ela morreu no último sábado

“Uma amiga fiel, uma presença de afeto. Foi testemunha da minha vida inteira”. Assim resume Moema do Valle Kuyumjian, filha da escritora Dinorath do Valle, a partida de Luzia Pereira dos Santos, que trabalhou na casa da família por três décadas e faleceu no último sábado, 21, em Rio Preto, aos 73 anos de idade. “Braço direito de Dinorath do Valle por mais de 30 anos. Conviveu conosco diariamente.”
Luzia nasceu em Mirandópolis e, aos 19 anos, foi trabalhar na casa de Dinorath, em substituição à irmã mais velha, que havia se casado. Poucos anos depois, ela também se casou, mas nunca se “divorciou” do lar onde era amada e respeitada como alguém da família.
“Tínhamos uma brincadeira carinhosa de que a Luzia rebatizou o arroz à grega. Chamávamos arroz à Luzia. Era um prato especial que ela preparava como ninguém, com legumes picados bem pequenininhos”, lembra Moema.
De origem humilde, cursou apenas três anos do ensino regular, no entanto, a convivência com a escritora Dinorath inspirou-lhe a escrever uma emocionante história sobre o Dia dos Pais, que muito lembra a obra “Quarto de Despejo”, da escritora Carolina Maria de Jesus, que tão bem soube traduzir a rotina e os sentimentos de quem teve poucas oportunidades na vida.
“Trabalhava na enxada calçado de alpargata, a mãe remendava as roupas furadas. Ele tinha um terno azul-marinho e nunca usou gravata”, registrou em página do Diário da Região.
Embora a legislação tenha reconhecido o direito das empregadas domésticas somente em 2013, na década de 80 Luzia fez sucesso no prédio do INSS ao ostentar sua carteira assinada.
“Minha mãe sempre teve muito carinho por ela. Era uma convivência que ultrapassava a relação de trabalho. Quando a Dinorath faleceu, a Luzia sofreu muito, dizia que sempre sonhava com a amiga”, completa Moema.
Filha única, Karina Cintra Haikel diz que a mãe deixa uma mensagem de luta, dignidade e bondade.
“Foi uma mulher muito forte, muito trabalhadora, esforçada, era o nosso alicerce. Estava presente em tudo, tinha excelente memória e estava sempre preocupada em ajudar. Muito quietinha, mas extremamente observadora”, lembra.
Luzia permaneceu com a família de Dinorath até a aposentadoria e, com o descanso, se dedicou integralmente a dar amor aos três netos. Antes de falecer, ela “profetizou” que a filha teria mais uma menina. Com a familiaridade com que se referia à netinha, é difícil dizer que partiu sem conhecer a caçulinha, que ainda está pra nascer. Luzia foi sepultada sob homenagens no cemitério São João Batista.