Diário da Região
ATAQUE

Israel bombardeia Doha em ataque inédito contra dirigentes do Hamas no Catar

De acordo com informações do Canal 12, de Israel, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou os ataques

por Agência Estado
Publicado em 09/09/2025 às 11:48Atualizado em 09/09/2025 às 14:48
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (Amos Ben Gershom/Divulgação)
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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (Amos Ben Gershom/Divulgação)
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O Exército de Israel anunciou nesta terça-feira, 9, que atacou um prédio residencial em Doha, no Catar, onde membros do escritório político do grupo terrorista Hamas estavam reunidos. Ainda não está claro se a delegação do grupo terrorista foi morta no bombardeio.

“Os membros da liderança que foram atingidos lideraram as atividades da organização terrorista por anos e são diretamente responsáveis ​​por executar o massacre de 7 de outubro e travar a guerra contra o Estado de Israel”, afirmou o comunicado divulgado pelo Exército.

De acordo com informações do Canal 12, de Israel, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou os ataques. A emissora de televisão israelense disse que o líder do Hamas Khaled Mashaal era o alvo do ataque. Israel já havia tentado assassina-lo na Jordânia em 1997 em um incidente que prejudicou as relações com o país vizinho.

O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que Tel-Aviv assume “completamente” a autoria dos bombardeios.

“A ação de hoje contra os principais líderes terroristas do Hamas foi uma operação israelense totalmente independente”, disse o gabinete. “Israel a iniciou, Israel a conduziu e Israel assume total responsabilidade.”

Operação

O Exército afirmou que tomou medidas para mitigar os danos civis no ataque, inclusive usando munições de precisão.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram que o nome da operação israelense no Catar é “encontro de fogo”.

A maior parte da liderança do Hamas em Gaza foi assassinada durante a guerra com Israel que começou no dia 7 de outubro de 2023, mas a liderança política do grupo em Doha acreditava estar segura no Catar.

O então chefe do escritório político do Hamas, Ismail Haniyeh, que morava em Doha, foi assassinado durante uma viagem ao Irã em julho do ano passado. O Catar atua como um dos dos mediadores nas negociações por um cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

De acordo com o canal saudita Al-Hadath, os principais líderes do Hamas estavam reunidos no prédio atingido pelo ataque e foram assassinados.

Entre os membros da delegação atacada na sede do Hamas em Doha estava o líder do Hamas em Gaza, Khalil al-Hayya, Zaher Jabarin, que lidera o Hamas na Cisjordânia, Muhammad Darwish, chefe do Conselho Shura do Hamas, e Khaled Mashaal, chefe do Hamas no exterior.

Já a Al-Jazeera aponta que a delegação sobreviveu.

Catar condena ataque israelense

Em um comunicado, o governo do Catar condenou os ataques israelenses contra líderes do Hamas em Doha, classificando a operação de Israel como “covarde”. Doha disse que o ataque teve como alvo prédios residenciais onde vários membros do Escritório Político do Hamas moravam.

O porta-voz da chancelaria do país, Majed Al Ansari, afirmou que o “ataque criminoso constitui uma flagrante violação de todas as leis e normas internacionais e representa uma séria ameaça à segurança dos catarianos e residentes no Catar”.

Ansari acrescentou que o Catar “não tolerará esse comportamento irresponsável israelense e a contínua perturbação da segurança regional, nem qualquer ato que vise sua segurança e soberania”.

Um oficial do grupo terrorista Hamas disse à AFP que a liderança do grupo estava reunida em Doha para discutir uma proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Essa é a segunda vez que o Catar é atacado durante a guerra. Na primeira, em junho deste ano, uma base americana foi alvo do Irã.

Cessar-fogo

No início desta semana, Trump, disse que estava dando seu “último aviso” ao Hamas sobre um possível cessar-fogo, enquanto oficiais do Catar estavam repassando a proposta ao grupo terrorista. Um oficial do Hamas chamou a proposta de “rendição humilhante”.

A proposta, apresentada pelo enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, prevê um fim negociado da guerra e a retirada das forças israelenses de Gaza assim que os reféns forem libertados e um cessar-fogo for estabelecido, de acordo com autoridades egípcias e do Hamas familiarizadas com as negociações, que conversaram com a Associated Press em anonimato.

Papel do Catar

Desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o Catar agiu para viabilizar a trégua no conflito. O país consegue manter relações sólidas com os Estados Unidos e outros países do Ocidente, mas também abriga o escritório político do grupo terrorista Hamas, além de ter ligações com o Taleban e também com o Irã.

Segundo analistas entrevistados pelo Estadão, Doha utiliza a mediação como instrumento diplomático para ser relevante no cenário geopolítico, principalmente aos olhos de Washington. Outro motivo para tentar se cacifar como mediador é proteger o próprio país por meio do status de prestígio diplomático, já que o emirado tem poucos recursos militares.

“É uma estratégia geopolítica”, aponta David Roberts, professor de relações internacionais da King ‘s College em Londres e autor do livroCatar: Garantindo as Ambições Globais de uma Cidade-Estado.

“O Catar está localizado em uma região de muitos conflitos, é um país muito rico e muito pequeno e precisa conseguir assegurar maneiras de garantir sua segurança. Eles não tem um Exército grande, então o país tem muitas ideias para ressaltar a sua utilidade”, afirma o analista.

Catar e Hamas

O país tem sido um importante negociador entre o grupo terrorista Hamas e Israel desde 2012, quando passou a abrigar o escritório político do grupo terrorista em Doha.

O Catar alega que permitiu que o Hamas tivesse um escritório político no país por conta de um pedido dos Estados Unidos, que queria ter uma forma de se comunicar por canais não oficiais com o grupo terrorista. Doha também oferece ajuda financeira a famílias pobres da Faixa de Gaza, paga os salários dos funcionários públicos no enclave palestino e envia ajuda humanitária para os palestinos.

Apesar de não ter relações diplomáticas com Israel, o Catar também possui contatos indiretos com Tel-Aviv.

Segundo uma reportagem do jornal The New York Times, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, tinha como estratégia política o incentivo de pagamentos do Catar ao Hamas para manter a paz em Gaza, antes dos ataques do dia 7 de outubro. Durante anos, oficiais da inteligência israelense chegaram a escoltar um funcionário do Catar até Gaza, onde ele distribuía dinheiro em malas com milhões de dólares como parte de um cessar-fogo com o Hamas.

O professor de relações internacionais da King ‘s College ressalta que as relações próximas entre Catar e Hamas não são um segredo para nenhum dos principais atores no tabuleiro do Oriente Médio. “O governo israelense e o americano basicamente pediram para que o Catar tivesse esse papel, não tem nenhum segredo nisso. Teria sido literalmente impossível para Doha ter essa relação com o Hamas sem que tenha sido pedido pelos EUA”.