16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação
Pessoas saudáveis dependem de sistemas alimentares saudáveis

A história da humanidade está intrinsecamente ligada à forma como o homem se relaciona com os alimentos. Antes coletor e consumidor de animais mortos, desenvolveu ferramentas para a caça e permaneceu tempo em demasia mastigando e digerindo carne crua. Então dominou o fogo e passou a assar suas presas. Por fim, desenvolveu a agricultura e criou vilas, cidades e civilizações, onde os alimentos, não uma fugaz procura diária, se transformaram em gastronomia. A comida passa a exercer papel fundamental na evolução humana. Questões como vegetarianismo, veganismo, sem glúten, zero lactose, orgânico, exploração do homem no campo, poluição ambiental, perda de identidade, acelerado ritmo de vida e globalização são temas emergentes e inconclusivos.
O que comer? Um dilema universal. Alimentar se tornou tão complexo quanto a simplicidade do ato de comer. Pode até parecer absurdo, mas nós não sabemos mais o que comer. Em tempo, o alimento X é comprovadamente bom, mas ao pouco, são lançadas dúvidas sobre seus benefícios até se tornar um vilão e ser amplamente divulgado pelos influencers - monetizados pela indústria alimentícia - que, de modo constante manipulam os hábitos alimentares apresentando fórmulas simples para saúde plena, juventude eterna e rapidez no milagroso emagrecimento.
Segundo François Simon, crítico gastronômico na França, “Comer é um Sentimento”, abrangente, cultural e político. Comer para matar a fome, comer para conter a ansiedade, comer o que a indústria da alimentação coloca nas gôndolas do supermercado, comer o que é prático e pronto, comer o que está na moda. Este é o dilema atual.
Os princípios do Slow Food - movimento que nasceu contrário ao Fast Food liderado por Carlo Petrini na Itália -, nos ajuda a entender o dilema da alimentação. O Slow Food preconiza a produção do alimento Justo - Bom - Limpo. BOM, refere se a qualidade do alimento, sem agrotóxico e privilegiando a agricultura familiar, JUSTO ao estabelecer o valor coerente para quem produz e LIMPO na logística de transporte da produção ao consumidor final com poucas perdas e sem poluir o ambiente. A partir dessa premissa, a gastronomia tem papel fundamental nas escolhas dos insumos para elaboração dos cardápios.
De acordo com os números recentes, 643 milhões de pessoas em todo o mundo estão cronicamente famintos. Paradoxal se considerarmos os recordes na produção de alimentos e uma parcela da população do planeta sofre de fome, outra choraminga porque come demais gastando fortuna para emagrecer. Enquanto isso, modelos insustentáveis de desenvolvimento estão degradando o meio ambiente, ameaçando os ecossistemas e a biodiversidade dos quais dependemos para o nosso abastecimento alimentar no futuro.
Para concluir a indignação, cerca de um terço dos alimentos produzidos no planeta atualmente vai direto para o lixo, o que equivale a 1 bilhão de toneladas por ano, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Por isso, neste dia mundial da alimentação, fica a provocação “O que iremos comer amanhã”?
Célia Gomes
Membro do Conselho Municipal de Turismo (Comtur)