A conta impagável da desvalorização docente
A docência, essa missão de imenso impacto, é tratada como um ofício de sacrifício

O futuro da educação brasileira está seriamente comprometido. Não por falta de crianças e jovens, mas por um êxodo constante dos profissionais mais vitais para o desenvolvimento do país: os professores. O problema é estrutural e tem uma equação simples e trágica: a profunda desvalorização social multiplicada pela triste realidade dos baixos salários.
Projeções alarmantes, como a que estima uma carência de até 235 mil professores na Educação Básica até 2040, acendem um alerta máximo. Este "apagão" iminente é o resultado direto de décadas de descaso. O que leva um jovem a desistir de uma carreira tão nobre? Ele olha para o magistério e vê um futuro de incertezas financeiras e desgaste emocional.
A docência, essa missão de imenso impacto, é tratada como um ofício de sacrifício. A remuneração é o sinal mais gritante desse desrespeito. O Piso Salarial Nacional, garantido pela Lei n° 11.738/2008, frequentemente se torna o teto, e não a base, da remuneração em muitas redes de ensino. Professores, muitas vezes com mestrado ou doutorado, lutam para fechar as contas, recebendo menos do que profissionais de outras áreas com a mesma qualificação. A precarização salarial não é apenas uma injustiça; é um convite ao abandono.
Mas o problema vai além do dinheiro. O docente lida diariamente com a sobrecarga de trabalho, a burocracia excessiva, a falta de infraestrutura e, cada vez mais, com a violência e o assédio moral nas escolas. A ausência de equipes multidisciplinares e de apoio psicológico transforma o ambiente de ensino em um foco de adoecimento. Síndrome de burnout, depressão e ansiedade viraram realidade comum, evidenciando que o professor adoece por ser pressionado a solucionar sozinho problemas que são complexos e sociais.
Não há, e nunca haverá, educação de qualidade sem o professor valorizado. O desinteresse pela carreira, a alta evasão dos cursos de licenciatura e o envelhecimento do corpo docente são sintomas claros de que o sistema está falhando em sua base.
A solução exige ações urgentes. O caminho passa pela garantia de salários dignos e pela implementação de um Plano de Carreira que respeite a formação continuada e a progressão funcional. É imperativo que os gestores cumpram a lei e invistam na valorização integral do magistério.
A sociedade deve romper com a hipocrisia de celebrar a data do professor enquanto ignora sua luta cotidiana. O Estado tem o dever legal e moral de agir com a urgência que a crise demanda. A defesa do professor é a defesa do nosso amanhã. Não podemos permitir que o farol da educação se apague por nossa inação.
Eduardo Alves de Lima
Professor de História e Pedagogo, Diretor Social do Sinpro Rio Preto e Região