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A estrela da caridade

Escuta-nos, a Providência Divina, conforme nossos méritos ou a intercessão de almas queridas

por Eurípides Alves da Silva
Publicado em 03/11/2025 às 20:40Atualizado em 04/11/2025 às 10:52
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Por um pedaço de pão e um pouco de vinho / Já vi mais de um irmão se desviar do caminho / Por um pedaço de pão e um pouco de vinho / Também vi muita gente encontrar novamente o caminho (...). Padre Zezinho

Ao invocar a Deus, procuramos nos colocar em condições de pedir, agradecer ou fazer um ato de louvor, em nosso benefício ou de outrem. Escuta-nos, a Providência Divina, conforme nossos méritos ou o mérito e a intercessão de almas queridas, segundo a doutrina de que “o Criador supervisiona, sustenta e governa sua obra, através de leis imutáveis e perfeitas”. A história de Otavius e Noah ilustra esse entendimento.

Obsessivamente apegado aos seus bens, ao demandar o reino da morte, Otavius viu-se instintivamente atraído ao palácio que lhe servira de residência. Oh, decepção! Seu nome só era lembrado pela família para lamentar os bens que doara a serviçais fiéis, enquanto sua herança era disputada em meio a mágoas e ressentimentos. Dos poucos amigos, imprecações o faziam recordar seus atos de usura e malquerença.

Desorientado e em prantos, Otavius vagueou por muito tempo num mundo de trevas, até se lembrar das preces que a mãezinha lhe sussurrava nos ouvidos infantis. E de tanto repeti-las, viu-se um dia diante de um magnífico santuário, repleto de estrelas fulgurantes. Era a “Constelação das Preces de Louvor”, nas regiões inferiores do firmamento. “Otavius - disse-lhe a angelical figura que vigiava o pórtico do santuário -, cada um destes pontos luminosos é uma prece de gratidão vinda da Terra!”

“Ai de mim... que jamais fiz o bem!”, lamentou-se Otavius. “De fato, você traz marcas da crueldade praticada contra súditos indefesos”, adiantou-lhe o missionário divino. “Todavia, há aqui uma estrela, uma prece de gratidão em seu favor: 32 anos atrás você ofereceu um pão a uma criança faminta, que, em oração, deu graças ao Senhor da Vida.” Ao consultar antigas lembranças, veio-lhe à mente a imagem de Noah, o menino paralítico. “Ele mesmo! - confirmou o anjo tutelar. Acompanhe o rastro de claridade deixado pela estrela para se livrar de seu sofrimento...”

Em lágrimas, ao seguir o frágil raio de luz, Otavius surpreendeu-se descendo à Terra, até chegar a uma singela carpintaria onde mourejava humilde trabalhador. Era Noah, aos 40 anos de idade! Identificados em pensamento, abraçaram-se longamente, envoltos numa suave risca de luz, feito amigos queridos que há muito não se viam.

Um ano após, feliz, Noah tinha nos braços um filhinho, cujos cabelos cacheados realçavam seus espertos olhos negros. Por misericórdia divina, um pedaço de pão, oferecido num ato de pura e desinteressada caridade, devolveu a Otavius a dadivosa oportunidade de renascer para se redimir...

(Resumo conciso de “A história de um pão”, de Irmão X, na obra O Espírito da Verdade, de Emmanuel/Chico Xavier.)

Eurípides A. Silva

Professor aposentado pelo Depto. de Matemática do Ibilce, campus da Unesp de Rio Preto.