Diário da Região
ARTIGO

A filosofia mora em quem viveu...

Pra mim, filosofar é viver com atenção, é aprender com o erro, com o outro, com o tempo

por Gilson Ribeiro
Publicado em 07/07/2025 às 21:55Atualizado em 08/07/2025 às 09:15
Gilson Ribeiro (Gilson Ribeiro)
Gilson Ribeiro (Gilson Ribeiro)
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Tem gente que pensa que pra ser filósofo tem que ter diploma, escrever citação como pensador famoso com um monte de palavras difíceis na ponta da língua, e usar um português rebuscado; pura bobagem! Para ser filósofo, basta ser amante da sabedoria, afinal, filosofia de verdade mesmo, vem com a idade, adquire-se com experiências vividas; filosofia a gente vê na fala do avô, no conselho da mãe, no desabafo de um amigo que já viveu o que você ainda nem sonhou.

Aliás, quantas vezes você já ouviu alguém simples, com pouca escolaridade, falar algo que te fez parar pra pensar por dias? Aquelas frases secas, diretas, sem enfeite nenhum, mas que têm um peso gigante, isso é sabedoria, pura filosofia, e essa sabedoria nem sempre vem dos livros.

Temos mania de achar que sabedoria e informação são a mesma coisa, ledo engano, elas não são; informação, hoje em dia, encontramos em todo lugar — no celular, na televisão, no Google, todavia, sabedoria… ah, essa mora no tempo, e está atrelada a experiências, ela vem do que se vive, do que se perde, do que se aprende na marra, é aquele tipo de coisa que os antigos sabiam sem saber que sabiam, simplesmente porque viveram.

Nossos antepassados, muitos deles sem sequer saber ler ou escrever, tinham um entendimento da vida que espantava; sabiam a hora de plantar, de colher, de esperar; sabiam o peso do silêncio, o valor da palavra dita na hora certa, não tinham acesso à informação como a gente tem hoje, mas carregavam nas costas a experiência de gerações; sabiam das coisas porque as coisas ensinaram a eles, não um professor.

Hoje em dia, tem gente que lê meia dúzia de livros e já se acha um pensador, um filósofo, mas nunca sentou para ouvir um idoso “filosofar” da vida — como me fascina —, nunca sujou as mãos com a própria história, e aí a filosofia vira só teoria, fria, distante: — Não é isso?

Pra mim, filosofar é viver com atenção, é aprender com o erro, com o outro, com o tempo, é olhar pra trás e entender o valor de quem veio antes — dos que não tiveram acesso ao que temos hoje, mas que nos ensinaram o essencial — o respeito, a humildade, a firmeza e a fé.

Tem um ditado que diz: “pra trás, nem pra pegar impulso”, isso é pura filosofia popular; enquanto o filósofo moderno talvez escrevesse páginas explicando por que não se deve reviver os erros do passado, o sábio da roça resume tudo numa frase só e você entende, sente.

Em última análise, não é o tanto que se estudou ou que leu que define quem é sábio, quem é filósofo ou não, é o quanto se viveu, se sentiu, se aprendeu com a própria caminhada, porque sabedoria não vem do tanto que você fala bonito, mas do que você faz com o que aprendeu da vida. Enfim, quem só leu sobre a vida pode até dar palestra, mas quem viveu... esse sim tem o que filosofar.

Gilson Ribeiro

Contador, cronista, poeta e membro da Academia Maçônica de Letras e Cultura do Noroeste Paulista