Diário da Região
Conjuntura

A inadimplência está aumentando

Os juros precisam cair — e isso só vai acontecer se houver uma melhora nas contas públicas e na conjuntura internacional

por Hipólito Martins Filho
Publicado em 15/09/2025 às 22:09Atualizado em 16/09/2025 às 10:51
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
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A inadimplência vem aumentando e atinge níveis recordes, mesmo com o desemprego em baixa e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Nunca tantas pessoas e empresas tiveram dívidas em atraso.

Pesquisa realizada pela SalaryFits mostra que o salário termina antes do fim do mês para 54% dos brasileiros, enquanto somente 25% dos trabalhadores têm alguma folga para bancar despesas extras.

Os juros básicos estão num nível muito alto em quase duas décadas, de 15% ao ano. Se, por um lado, ajudam a controlar a inflação, por outro, provocam estragos nas finanças das empresas e consumidores que não conseguem manter suas contas em dia.

Boa parte das pessoas utiliza o cheque especial e/ou o cartão de crédito como extensão de seus salários. Os juros desses instrumentos de crédito são exorbitantes, sem considerar os embutidos em tudo aquilo que se compra. A conta não fecha.

A pesquisa comprova que, em junho, o Brasil tinha 8 milhões de empresas (um terço das existentes) com dívidas em atraso. Também havia 78,2 milhões de brasileiros (quase metade da população adulta) inadimplentes. É a maior marca desde o início da série, em 2016.

A situação não é das melhores: cada brasileiro negativado tinha, em média, quatro dívidas com pagamento atrasado, e cada empresa inadimplente acumulava sete compromissos não honrados.

Boa parte das dívidas dos consumidores vem da falta crônica de uma educação financeira que deveria ser currículo obrigatório em todas as escolas de ensino fundamental há décadas. Mas, como o país conviveu com uma inflação crônica, o planejamento financeiro e doméstico nunca foram prioridades.

De qualquer forma, a elevação das taxas de juros básicos (taxa Selic) é a maior responsável pelo aumento da inadimplência. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vem elevando os juros para segurar a inflação, o que tem dado resultado, mas reflete na atividade econômica.

A alta dos juros foi interrompida em junho, mas, mesmo assim, as consequências do aperto monetário sobre o mercado, nos próximos três meses, ainda não foram sentidas, devido à defasagem entre as decisões de política monetária e os efeitos na economia real.

Outro fator que também colabora para essa situação é a dificuldade na aprovação de novas concessões de crédito.

A inflação vem agravando o problema, já que reduz a renda líquida do consumidor. Assim, ele começa a priorizar quais dívidas pagar, quando paga. Outro ponto que explica o aumento dos atrasos é que boa parte da renda está sendo comprometida com as bets (apostas). O pior é que nada, ou muito pouco, vem sendo feito pelo governo para regulamentar essa situação.

É preocupante o último relatório do Banco Central, que mostra que a inadimplência das empresas e consumidores na modalidade crédito livre (empréstimos pessoais) atingiu, em julho, 5,2% do saldo a receber pelo sistema financeiro. É o maior nível em oito anos, desde junho de 2017. Isso explica, em parte, porque os juros são tão altos no Brasil.

As empresas mais castigadas pelo aperto monetário são as menores. Das 8 milhões de empresas inadimplentes, 7,6 milhões são pequenas e microempresas. A consequência nefasta pode ser o desemprego a médio prazo, já que essas empresas geram 70% dos postos de trabalho da economia brasileira.

O setor de serviços é o mais afetado pela inadimplência. O setor industrial começa a ser atingido também, consequência da desaceleração da atividade e do tarifaço imposto pelos EUA.

Os juros precisam cair — e isso só vai acontecer se houver uma melhora nas contas públicas e na conjuntura internacional.