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ARTIGO

A justiça impossível

Esta polarização forçada é como ouroboros, que devora a si mesmo

por Lawrence Garcia
Publicado em 15/10/2025 às 22:17Atualizado há 19 horas
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Goste-se ou não do resultado do julgamento do último dia 11 de setembro, é inegável que o ex-presidente teve amplo direito de defesa. Que seu caso teve extensa repercussão na sociedade, os juízes que o julgaram foram escolhidos de acordo com as regras constitucionais e que entre eles houve divergências, tal qual deve acontecer em democracias saudáveis.

Acontece que infelizmente a nossa democracia não está plenamente saudável há muitos anos e boa parte da responsabilidade é de Bolsonaro, seus asseclas e seus familiares. Foram inúmeros os crimes cometidos e nem todos serão julgados. E ainda que fossem, como quantificar 700 mil vidas perdidas? Como punir recordes de desmatamento que prejudicarão gerações? Como desfazer a “lavagem cerebral” que acomete metade da população até os dias de hoje? Por essas e outras é impossível levar Bolsonaro à Justiça. E assim, outro sentimento muito perigoso começa a aflorar: o da vingança.

Também é inegável que o Brasil está doente. Esta polarização forçada é como ouroboros, que devora a si mesmo. Faz 10 anos que estamos estagnados, brigando uns com os outros para ver quem tem mais ou menos razão sobre assuntos que vão do nada a lugar nenhum. E nisso, o centrão pragmático percebeu uma ótima cortina de fumaça para passar várias boiadas, como as emendas impositivas, como fazer o executivo de refém e mais recentemente, como se blindar de qualquer punição sobre qualquer crime.

O processo de cura nunca é fácil. Mas, ou aproveitamos o silêncio imposto a Jair Bolsonaro para colocar de lado a vingança e a polarização e começamos a dialogar uns com os outros (num entendimento de que do jeito que está “nem quem ganhar, nem quem perder, vai ganhar ou perder, vai todo mundo perder”) ou corremos o risco de a coisa degringolar de vez. Escapamos de uma nova ditadura por muito pouco. Queremos realmente continuar tendo essa possibilidade em nosso horizonte?

Para isso, primeiro mudamos o micro e depois o macro: Brasília é um reflexo dos municípios e não o inverso. Nesse sentido, precisamos, em Rio Preto, começar a dialogar uns com os outros. Por exemplo, não adianta o prefeito colocar a culpa de toda e qualquer crítica ao seu governo na “esquerda” como se estivesse tudo perfeito. Do mesmo jeito que não adianta o militante ir xingar os vereadores porque estes têm uma visão de mundo diferente. Juntos podemos aproveitar todo o potencial do Brasil e dos brasileiros. Separados podemos ficar reclamando como crianças mimadas. A escolha é de cada um.

Lawrence Garcia

Um dialogador contumaz