A política do Coroné
Nosso Coronel retoma uma estratégia antiga para amenizar a insatisfação do povo: pão e circo

Às vezes, encontro-me imaginando se os batalhões comandados pelo Coronel Fábio Candido, ao longo de sua vasta carreira na Polícia Militar, foram tão mal geridos quanto o atual momento da Prefeitura de Rio Preto. Besteira a minha, ao que parece: Rio Preto tem muito mais a piorar – para a infelicidade da população.
É interessante ressaltar que há uma incompatibilidade entre o comando razoável de um batalhão e a atual gestão da Prefeitura de Rio Preto. Por um lado, um batalhão de polícia é pensado estrategicamente para melhor atender à região designada, valendo-se de recursos do Estado para garantir e assegurar direitos básicos à população.
Por outro lado, o que hoje podemos observar em Fábio Candido é uma aversão ao Estado que sempre o beneficiou, desconsiderando que a política, desde seu sentido grego de pólis, visa ao bem comum da cidade.
Ora, quando se propõe um aumento repentino de IPTU em 20%, a criação de cargos com altos salários e a venda da dívida que o município tem a receber, trata-se de um governo que esqueceu — se é que algum dia lembrou — que a política consiste no bom governo da pólis, cujo fim é o bem-estar do povo. Parece-nos que, em pouco tempo de governo, a política do Coronel é direcionada aos “poucos e bons”: a política da manutenção do poder não pela realização de benfeitorias à cidade, mas pelos acordos privados que favorecem uma casta administrativa.
Além disso, como se desgraça pouca fosse bobagem, entre todas as ingerências que terão consequências duradouras na administração pública da cidade, nosso Coronel Aventureiro retoma uma estratégia antiga para amenizar a insatisfação do povo: a política do pão e circo. Clássico movimento de prefeito de interior cujo maior feito é proporcionar uma festa “daquelas” para que a população esqueça sua má administração.
Ao anunciar a realização de um show internacional na cidade, Fábio Candido demonstra que pouco tem a anunciar em feitos e resultados aos seus eleitores, escondendo-se atrás de um marketing vazio ou posicionando uma capivara gigante em uma avenida movimentada.
Mas não estranhem, por favor: Nietzsche já dizia que há pessoas que escurecem as águas para fazê-las parecer profundas, indicando que, por detrás de tanto espetáculo comunicado, há uma tragédia anunciada de um governo que não tem projeto.
No entanto, muito me surpreende que um sujeito que serviu ao Estado durante toda a sua vida se converta em um arauto das privatizações, negligenciando o bem-estar da população, valendo-se da própria estrutura estatal. Bairros sem infraestrutura básica, funcionários terceirizados com constantes problemas de pagamento, zeladoria da cidade praticamente abandonada — mas nada disso parece incomodar nosso singelo Coronel, pois sua aventura política não tem limites.
Fabrício Pizelli
Bacharel e Licenciado em Filosofia (UNESP), mestre em Filosofia (UFSCar), doutorando em Filosofia (UNESP). Professor e pesquisador.