Diário da Região
Conjuntura

A POPULAÇÃO ESTÁ ENCOLHENDO

A previdência, mais uma vez, deverá passar por reformas, já que o atual modelo não consegue sustentar a nova realidade; a assistência social, de peso relevante no Brasil, também terá de ser ampliada

por Hipólito Martins Filho
Publicado em 29/09/2025 às 20:40Atualizado há 15 horas
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
Galeria
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
Ouvir matéria

O Brasil está diante de uma transformação demográfica sem precedentes. Dados recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 1º de julho deste ano, o país tinha 213,4 milhões de habitantes — crescimento de somente 0,39% em relação a 2024. O ritmo é o mais baixo da série histórica, e já há sinais claros de retração: 2.079 municípios (37,3% do total) registraram queda populacional.

Em Rio Preto e região, o retrato é ainda mais evidente. Em 2024, foram somente 15.490 nascimentos, o menor número do século. A tendência, segundo especialistas, é de queda ainda mais acentuada a partir de 2030, quando um quarto da população brasileira terá 60 anos ou mais.

O IBGE alerta que o Brasil não aproveitou plenamente o chamado “bônus demográfico” — fase na qual a população em idade ativa supera a de crianças e idosos, favorecendo produtividade e renda. Agora, o país caminha para um cenário no qual os que chegam ao mundo já não conseguem repor sequer o número de filhos que suas famílias tinham até recentemente.

Dos 5.571 municípios brasileiros, somente 122 (2,2%) apresentaram crescimento de 2% ou mais. Outros 3.011 (54%) ficaram praticamente estagnados, com taxa de até 0,9%.

As consequências do envelhecimento já começam a se impor. O aumento das doenças crônicas exigirá mudanças profundas na saúde pública, como expansão de orçamento e revisão dos currículos das faculdades de medicina e áreas correlatas.

A previdência, mais uma vez, deverá passar por reformas, já que o atual modelo não consegue sustentar a nova realidade. A assistência social, de peso relevante no Brasil, também terá de ser ampliada.

No mercado de trabalho, a transição é inevitável. Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial em parceria com a Fundação Dom Cabral, até 2030 serão criados 170 milhões de postos no mundo, mas 92 milhões desaparecerão devido à automação e da inteligência artificial — saldo de 78 milhões. O desafio é que o Brasil segue atrasado: quase um terço da população ainda é analfabeta funcional e somente 23% têm altas habilidades digitais, segundo o INAF.

Um dado chama a atenção: em 2023, 8,6 milhões de brasileiros com mais de 60 anos estavam ocupados no mercado de trabalho — alta de 70% em relação a 2012, segundo a economista Janaína Feijó, da FGV/IBRE.

O envelhecimento populacional também impõe mudanças nos centros urbanos. Será necessário repensar transporte, mobilidade, segurança e entretenimento para atender a esse público crescente.

Entre as tendências globais e nacionais, destacam-se: queda da fecundidade, aumento da longevidade, crescimento populacional mais lento, urbanização e intensificação da migração. Essa última pode redesenhar o mapa populacional, sobretudo nos países que atraírem fluxos migratórios.

“Não temos como correr das mudanças que virão. Ou se elabora um planejamento rigoroso, ou os problemas já existentes se intensificarão”, resume o estudo.