A principal virtude – o silêncio
O silêncio diante do desabafo de alguém é também uma forma de escuta e acolhimento

Vivemos em tempos de ruído - vozes que se atropelam, opiniões que se impõem, discursos que mais confundem do que esclarecem. Nesse cenário, o silêncio deixou de ser apenas a ausência de palavras para se tornar uma virtude rara e valiosa; silenciar, hoje, é sinal de sabedoria, força e discernimento.
No mundo dos “especialistas em tudo”, onde muitos opinam sem escuta e falam mais do que compreendem, o silêncio se impõe como resposta sensata, e calar-se, muitas vezes, não é sinal de ignorância, mas de maturidade, e ao escolher o silêncio, poupamos palavras desnecessárias, evitamos feridas e abrimos espaço para a reflexão.
O silêncio acalma o coração e serena a mente, ele organiza pensamentos, reduz impulsos e permite que vejamos com mais clareza, não é à toa que grandes ensinamentos espirituais se manifestam no recolhimento e na contemplação. Deus, o Grande Artífice do Universo, muitas vezes se manifesta no silêncio — não por ausência, mas por sabedoria, e impressionante, há força em não reagir, em observar e confiar no tempo.
Diante de situações difíceis ou delicadas, silenciar pode ser um gesto de empatia, afinal, nem toda dor precisa ser comentada; nem toda confissão exige resposta, o silêncio diante do desabafo de alguém é também uma forma de escuta e acolhimento, onde guardar um segredo, respeitar o espaço do outro, saber calar no momento certo - tudo isso revela caráter, respeito e compromisso.
Ao longo da vida, aprendemos que a palavra dita não volta atrás, como a flecha lançada, ela pode acertar ou ferir, e, infelizmente, certas feridas causadas por palavras impensadas demoram a cicatrizar - ou nem cicatrizam, por isso, silenciar também é um ato de responsabilidade, é reconhecer que, às vezes, o melhor que temos a oferecer é o nosso cuidado, manifestado no silêncio.
Infelizmente, hoje vivemos a era do "sincericídio", onde a franqueza se confunde com grosseria e a liberdade de expressão é usada como licença para o ataque. Todos parecem se sentir no direito de julgar, opinar, corrigir o outro, mas poucos se lembram de que, ao apontar o dedo, ao menos três dedos voltam-se contra si mesmos, e esse excesso de fala tornou-se uma arma - e, nesse contexto, o silêncio é escudo.
Mais do que ausência de som, o silêncio é escolha, ele não significa omissão, mas equilíbrio; não revela fraqueza, mas inteligência emocional, onde quem silencia, muitas vezes, o faz para proteger a si mesmo, preservar relações ou permitir que o essencial se revele, portanto, é no silêncio que surgem as respostas que a fala atropela; é no silêncio que encontramos a paz que o barulho esconde.
O silêncio é, sim, uma virtude - quem sabe, nestes tempos atuais, a principal. Ele nos ensina que nem tudo precisa ser dito, que nem toda opinião precisa ser expressa, que nem toda provocação merece resposta. Ensina-nos que há força em apenas observar, respeitar o tempo das coisas, confiar na sabedoria da vida - e calar quando o ego quer gritar.
Silenciar é mais do que se calar, é agir com consciência, é viver com respeito, é permitir que a sabedoria fale mais alto que o impulso, e, num mundo onde todos gritam, talvez a verdadeira revolução esteja em quem escolhe simplesmente... permanecer em silêncio.
Gilson Ribeiro
Contador, cronista, poeta e membro da Academia Maçônica de Letras e Cultura do Noroeste Paulista.