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ARTIGO

A rota mais rápida entre dois pontos não é reta

Como quem não compreende nem mesmo a pergunta pode querer apresentar uma solução?

por ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury
Publicado em 26/09/2025 às 20:13Atualizado em 27/09/2025 às 11:59
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Já aviso de antemão que este texto não é para fãs de leituras apressadas, nem para aqueles que tomam decisões paliativas, imediatistas ou populistas.

Se a menor distância entre dois pontos é uma linha reta, a rota mais curta entre eles é uma curva, chamada braquistócrona. Ou seja, problemas matemáticos com ênfase na Física provaram que a trajetória mais curta em tempo não é a mais curta em comprimento. Mas, onde quero chegar com esse raciocínio?

Apresentei esse exemplo como ilustração para reforçar o argumento de que uma mesma solução não serve para todos os problemas, pois cada objetivo pede um plano próprio, no qual o que é ideal em um aspecto pode ser inadequado em outro. A distância mais curta pode não ser a mais rápida — e isso não invalida a verdade geométrica — só demonstra que todos os fatores devem ser ponderados para, então, serem analisados, como, nesse caso específico, a gravidade.

E o que há de mais grave em desconsiderar o ponto de vista ao compreender a perspectiva de um tema é justamente não resolver o problema corretamente. Note! Não estou falando de errar na solução, mas correr o risco de aplicar uma solução ‘correta’ para uma questão ‘errada’.

Agora, como quem não compreende nem mesmo a pergunta pode querer responder e apresentar uma solução? E é isso que acontece quando se dá ouvidos a opiniões rasas de quem não se debruça nem mesmo sobre as próprias ansiedades, quiçá sobre os abismos que se escondem nas inquietações alheias: confundir clamor com critério e substituir reflexão por reação.

Então, veja bem o cerne da questão: se está na compreensão, logo se trata do nível conceitual, enquanto que, quando se pensa em resolução, é o nível prático que está em jogo. Por isso que, em linguagem matemática, a escolha entre uma cicloide invertida ao invés de uma linha reta não é uma questão de beleza ou capricho, mas de propósito e finalidade, onde às vezes é necessário fazer uma curva, mesmo que aparentemente mude a direção. Mas, desde que o objetivo traçado esteja em mente, não há como se desviar dos objetivos — e é esse o ponto.

Assim, a curva que se faz necessária em uma trajetória não é sinônimo de atraso ou perda de rumo, mas, sim, de inteligência estratégica. A pressa busca atalhos, a sabedoria constrói percursos. E, ao fim, o que define a chegada não é a velocidade bruta, mas a clareza do propósito que guia cada passo.

E que fique claro: este artigo não é sobre Física, nem sobre Matemática.

ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail)

Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta.