Antonieta de Barros: voz, coragem e educação
Antonieta de Barros permanece como um símbolo de resistência, sabedoria e esperança

Antonieta de Barros era uma mulher extraordinária. Tornou-se uma das figuras mais notáveis da história da política e da educação brasileira. Era séria, assertiva e enérgica, muito respeitada por seu espírito de justiça, e, por isso, foi uma das primeiras mulheres negras a ocupar um cargo político no Brasil e a primeira deputada estadual de Santa Catarina.
Educadora, jornalista e defensora incansável da igualdade, Antonieta utilizou da educação e da palavra como instrumento de transformação social, fazendo-se ouvir na primeira metade do século XX, mesmo diante de uma sociedade ainda muito próxima dos anos que foram a escravidão.
Filha de uma ex-escravizada, nasceu em 1901, em Florianópolis, onde completou o curso normal, formando-se professora, e morreu em 1952, na mesma cidade, devido a complicações da diabetes. Enfrentou desde cedo as barreiras impostas pelo racismo e pelo machismo, ainda assim, transformou as adversidades em força e propósito, dedicando sua vida à educação, à escrita e à luta por igualdade social.
Em 1922, aos 17 anos, criou o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para alfabetização de jovens e adultos pobres, com o objetivo de combater o analfabetismo. Acreditava na educação como libertadora, ou seja, como a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Além disso, devido a seu reconhecimento como notável profissional, lecionou para a elite, nos colégios Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.
Sua voz e sua escrita também ecoaram na imprensa e na política, sempre a denunciar o racismo, o machismo e as injustiças sociais. Na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, lutou pela ampliação do acesso à escola pública, pela valorização dos professores e pelo reconhecimento do papel da mulher na política. Uma de suas contribuições nesse campo, foi a aprovação, em 15 de outubro de 1948, da lei que oficializou o dia do Professor e o feriado na data.
Antonieta de Barros permanece como um símbolo de resistência, sabedoria e esperança. Sua trajetória lembra que ensinar é também um ato político — e que o conhecimento é uma das formas mais poderosas de liberdade.
Ingrid Zanata Riguetto
Historiadora, poeta e professora. Coordenadora de ações culturais na Casa de Encontro e de Cultura Antonieta de Barros. Dra. em Teoria e Estudos Literários e participante dos coletivos Mulheres na Política e Lugar de Mulher é onde ela quiser.