Assistência Social como vetor de dignidade
O grande desafio da política de assistência é ir além do assistencialismo

O desenvolvimento humano exige mais do que infraestrutura e crescimento econômico. Exige a presença do poder público onde há ausência de direitos, especialmente junto às populações em situação de vulnerabilidade extrema. Entre essas, a população em situação de rua representa o retrato mais cru das desigualdades sociais e da ruptura de vínculos familiares, comunitários e institucionais.
A assistência social, enquanto política pública essencial, tem o papel de reconstruir pontes. É por meio dela que se restabelece o mínimo necessário para uma existência digna: acesso à alimentação, à higiene, ao acolhimento, à escuta qualificada e à possibilidade real de reinserção social. Em Rio Preto, a rede de proteção atua de forma intersetorial, buscando não apenas atender emergencialmente, mas também construir caminhos de autonomia, cidadania e pertencimento.
Os serviços especializados voltados a essa população, como o Centro Pop e as unidades de acolhimento institucional, são espaços de cuidado, mas também de esperança. São locais onde a pessoa é reconhecida como cidadã e como alguém que ainda possui direitos, sonhos e potencial. A rua não é lugar de moradia, mas, para muitos, tornou-se o último refúgio após ciclos de exclusão, dependência química, desemprego e abandono. São histórias que, muitas vezes, passam despercebidas no cotidiano das cidades, mas que carregam imensa complexidade e sofrimento.
A Política Nacional para a População em Situação de Rua, instituída em 2009, reconhece essa população como sujeito de direitos e propõe ações integradas nas áreas de saúde, educação, assistência social, habitação e trabalho. No entanto, para que essa política se concretize nos municípios, é necessário mais que vontade institucional. É preciso articulação entre secretarias, investimentos constantes, escuta ativa e fortalecimento da rede socioassistencial. Além disso, é essencial contar com o apoio de organizações da sociedade civil e da população em geral para enfrentar preconceitos e romper estigmas.
O grande desafio da política de assistência é ir além do assistencialismo. O atendimento imediato é fundamental, mas precisa estar acompanhado de estratégias de médio e longo prazo que fortaleçam vínculos comunitários e promovam a inclusão. A dignidade não se entrega. Se constrói, se cuida e se protege.
A cidade que desejamos precisa enxergar seus invisíveis. E isso começa quando o poder público, a sociedade civil organizada e cada cidadão reconhecem que a rua não é um destino inevitável, mas uma urgência social que exige empatia, técnica e ação coordenada. Não basta ver. É preciso agir.
Rafael Nogueira
Servidor público municipal, agente de governança voluntário na Rede Governança Brasil, @rafaelscooby86