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ARTIGO

Ativismo pra quem?

Quando o assunto é defesa das mulheres, vemos sempre os mesmos rostos

por Alexandra Fonseca
Publicado em 02/12/2025 às 19:42Atualizado em 03/12/2025 às 09:57
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No último sábado, caminhamos pelo fim da violência contra mulheres e meninas. Seguimos nos dividindo entre eventos com este propósito desde o dia 20 de novembro, quando celebramos os povos tradicionais de Matriz Africana no FestAxé, no dia da Consciência Negra. Nestes 21 dias de ativismo, uma constatação dura, mas sobre a qual é necessário falar é gritante: por onde quer que se vá pela cidade, quando o assunto é defesa das mulheres, vemos sempre os mesmos rostos.

Estamos e-xaus-tas!

Será que numa cidade com mais de 500 mil habitantes, numa Região Metropolitana com mais de 1 milhão de habitantes, quando falamos em combate a violências estruturais, ninguém mais se importa além da mesma centena de pessoas que se reúne nos eventos e é ativista por esta causa?

Me recuso a acreditar que a misoginia e a cultura da violência chegaram a tal ponto em que toda a sociedade realmente acredite que é normal e aceitável viver em uma sociedade onde 4 mulheres são mortas por dia apenas pelo fato de serem mulheres. Onde, de janeiro a agosto de 2025, foram registradas cerca de 3.917 ocorrências na Delegacia da Mulher de Rio Preto contra 2.928 no mesmo período de 2024; em que cerca de 1.607 medidas protetivas foram concedidas de janeiro a agosto de 2025, frente a 1.097 em 2024, onde foram instaurados 1.743 inquéritos policiais nos primeiros oito meses de 2025, contra aproximadamente 1.200 em 2024.

A região de Rio Preto registrou um recorde de 17 feminicídios em 2024, o maior número desde a promulgação da Lei do Feminicídio, representando um aumento de 88% em relação a 2023.

As estatísticas parecem alarmantes, mas não mais do que o fato de que 82% das ocorrências registradas na região desde 2015 ocorreram dentro de casa e em que cônjuges e ex-cônjuges são os principais agressores. Talvez esse último dado seja essencial para entendermos a pouca adesão às campanhas de conscientização.

Talvez o fator mais relevante seja o uso da desorganização como estratégia de desmobilização, adotada pelo poder público como política de morte, como vimos na última semana a divulgação do prefeito de sua suposta participação em campanha de combate à violência contra mulheres, quando se recusa a receber adequadamente o Conselho da Mulher para desenvolver políticas públicas adequadas desde o início do mandato e, questionado publicamente pelo Conselho, tentou desmentir a informação ao invés de agendar imediatamente uma conversa que seria o esperado de quem realmente se importa.

Precisamos repensar as estratégias.

Alexandra Fonseca

Advogada, mãe, ativista e membra do Coletivo Mulheres na Política.