Barukh Dayan haEmet: Zikhrono Livrakhah
Se eu me esquecer deles, que Os Céus se esqueçam de mim

Neste solo repousam imigrantes que, em tempos sombrios, buscaram a tão almejada paz. No silencioso oscilar do pêndulo, que marca o compasso do tempo, suas sementes, que usufruem dessa paz, zelam por eles e mantêm intactas as suas memórias, apesar da brevidade dos dias. Se eu me esquecer deles, que Os Céus se esqueçam de mim. Benditos àqueles que aqui descansam!
Pela elevação da alma de TAV”deM, minha amada tia Eza, possuidora de uma alma pura, que, desde o 7º dia do 1º e 7º mês do ano 5785 da criação do mundo, repousa no profundo sono da morte.
Do perdão, o último dia: antes que o ciclo se fechasse, eis que a casa dos filhos da árvore, mais uma vez foi visitada pela sombra do viajante indesejado. Tomando assento sem ser convidada, esta silente testemunha do tempo, com as mãos que costumeiramente toca o destino dos homens, arrancou a centelha daquele que, do seu ramo desta madeira-de-lei, neste galho com tantos outros, era o último primogênito dos filhos da casa daquele que agarrou o calcanhar. Rogo pela elevação da alma de AR”Beit-V, meu amado tio Beto, que se manteve firme, íntegro e forte, até o fim dos seus dias; para que no 11º dia, também no 1º e 7º mês, mas no ano 5786 da criação do mundo, finalmente pudesse descansar em seu sono profundo.
A memória destes justos seja uma bênção, e sobre eles, a paz. Amen v’Amen!
Escrevi este texto poético segundo o estilo literário judaico Melitzah dos Maskilim do movimento da Haskalá, aprendido por meio da tradição — sendo continuamente escrito de acordo com a necessidade, onde estrofes são acrescidas conforme novas despedidas fúnebres são feitas; e tem como finalidade homenagear meus antepassados e familiares próximos de minha origem judaica matrilínea que recentemente partiram na morte, nos últimos anos, levados pela mesma doença hereditária, de forma seguida, comumente no período que margeia os 10 dias de perdão e de arrependimento, o Yom Kippur. A obra reúne as características de 5 categorias da tradição poética, literária e litúrgica judaica: Qináh (Lamento), como um poema de luto que homenageia a memória dos entes queridos falecidos, mantendo o tom solene e reflexivo característico de uma elegia, com a presença de metáforas relacionadas à morte; Piyut (Poesia litúrgica), devido ao uso de linguagem cabalística com dedicatória ritualística que eleva a sofisticação estilística; Selicháh (Súplica), por suplicar pelo reconhecimento Divino em favor de uma pessoa justa; Tiqun (Reparação), como pedido de elevação espiritual, como parte do rito destinado a ajudar a alma a alcançar um estado de paz e bênção; e, Zikhron (Recordação), por invocar uma bênção à memória perpétua, preservando a conexão com os ancestrais.
ODAMIM: Guilherme Vinhatico Cury (Shlomo ben’Esav ibn-Ismail)
Artesão das Artes Plásticas, escultor, desenhista heráldico, ilustrador e poeta