Cidades-esponja
Nova York e Berlim já utilizam elementos que conferem a elas características de esponja

O conceito de cidade-esponja surgiu como uma resposta inovadora para lidar com os desafios das enchentes urbanas, cada vez mais frequentes em virtude dos eventos climáticos extremos. Parques alagáveis, telhados verdes e calçamentos permeáveis fazem parte do modelo urbanístico conhecido como “cidade-esponja”. A proposta busca reter as águas das chuvas no próprio espaço urbano, reduzindo enchentes e assegurando reservas de água para os períodos de longa estiagem. Trata-se de um conceito criado pelo arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu, que morreu em 23/9/2025, vítima de um acidente aéreo no Pantanal, em Mato Grosso do Sul.
Embora não tenhamos no Brasil uma cidade que possa ser chamada de cidade-esponja, já existem algumas que adotaram técnicas inspiradas nesse conceito inovador, para enfrentar os desafios das enchentes urbanas, como Niterói e Belo Horizonte. São cidades que têm implementado iniciativas como jardins de chuvas e áreas permeáveis, que visam absorver, armazenar e filtrar a água da chuva de maneira eficiente.
De acordo com Kongjian, para que o modelo das cidades-esponja funcione, ele deve se basear em três grandes estratégias. O primeiro princípio adotado nesse projeto é reter a água assim que ela toque no solo. Isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.
Em seguida, o arquiteto aconselha que se pense no manejo da água coletada. Isto é, desacelerar o fluxo da água: em vez de canalizar a água rapidamente em linhas retas, utilizar canais sinuosos, com vegetação ou várzeas, para reduzir a velocidade da água.
A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição. A principal forma de fazer isso é criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a água possa ser contida por um tempo para, depois, ser absorvida pelo lençol freático. Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açudes.
Em resumo, além das estratégias acima, são muitas as características que fazem uma cidade ser, de fato, uma cidade-esponja. Entre elas, destacam-se: a criação de áreas verdes de escape para a água, como áreas úmidas e parques alagáveis; a reconstrução da margem dos rios, com a retirada de concreto e a implementação de mata ciliar ou espaços verdes; a implementação dos chamados “jardins de chuva”, áreas verdes espalhadas pelas cidades que reduzem o escoamento superficial das águas; a criação dos “telhados verdes”, para reduzir o tempo de escoamento das chuvas no solo.
Diversas cidades pelo mundo, como Nova York e Berlim, já utilizam elementos que conferem a elas características de esponja. A China é um dos países que mais investem na criação de cidades-esponja, modelo que se baseia num conjunto de medidas que transformam a infraestrutura urbana, principalmente no que se refere ao crescente drama das águas das chuvas.
João Francisco Neto
Advogado, doutor em Direito Econômico e Financeiro (USP). Monte Aprazível.