Diário da Região
ARTIGO

Comércio exterior x guerras: comercial e armada

Tanto na importação quanto na exportação, é fundamental observar toda a cadeia logística

por Paulo Narcizo Rodrigues
Publicado em 25/06/2025 às 21:49Atualizado em 26/06/2025 às 08:58
Paulo Narcizo Rodrigues (Paulo Narcizo Rodrigues)
Paulo Narcizo Rodrigues (Paulo Narcizo Rodrigues)
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O impacto da guerra comercial, especialmente entre EUA e China, vem causando diversos transtornos ao comércio internacional. Em determinados momentos, os Estados Unidos impõem tarifas às importações; em outros, recuam dessas medidas. Isso gera uma corrida por fretes marítimos, com o objetivo de evitar o desabastecimento dos mercados de atuação das empresas — seja com matéria-prima, seja com produtos para revenda.

O Brasil acabou sendo relativamente privilegiado, com seus produtos taxados no mercado americano a uma alíquota de 10%, com exceção do aço e do alumínio, que sofreram tarifa de 50%.

Um dos impactos negativos nas importações tem sido o aumento do frete internacional, que nos últimos meses subiu de USD 1.600,00 para os atuais USD 7.600,00 — com escassez de espaço nos navios e tendência contínua de alta. Durante a pandemia, o valor do frete chegou a ultrapassar USD 13.000,00 por contêiner.

Outro agravante foi o aumento dos custos de armazenagem, tanto para importação quanto para exportação, devido à greve dos fiscais da Receita Federal, iniciada em novembro de 2024. Essa paralisação foi encerrada no início de junho, após decisão do STJ, que impôs multa diária de R$ 500 mil ao Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), em caso de descumprimento.

O Brasil importa fertilizantes da Rússia, Canadá, China, Irã e Israel, e qualquer interrupção nas rotas marítimas pode afetar o abastecimento e elevar o custo dos insumos agrícolas. Isso impacta diretamente o agronegócio, um dos pilares das exportações brasileiras — cerca de 85% dos fertilizantes consumidos no país são importados.

Outro fator de alta é o aumento do preço dos combustíveis. Um navio pode consumir até 12.500 litros de óleo diesel por hora; em cruzeiro contínuo, esse consumo ultrapassa 300.000 litros por dia. Imagine uma viagem média de 30 dias da China ao Brasil: quanto mais caro o combustível, mais elevado o frete marítimo internacional.

Fretes mais caros, menor oferta de navios, maior risco, seguros elevados — tudo contribui para encarecer as importações e, consequentemente, a produção agropecuária, o que certamente será repassado ao consumidor final.

Assim, tanto na importação quanto na exportação, é fundamental observar atentamente toda a cadeia logística, evitando surpresas e prejuízos significativos.

Paulo Narcizo Rodrigues

Despachante aduaneiro