Diário da Região
Conjuntura

Cuidados necessários

Sem uma política nacional de saúde mental voltada às pessoas idosas, com foco na prevenção do suicídio e da depressão, dificilmente o idoso terá alguma qualidade de vida

por Hipólito Martins Filho
Publicado em 03/11/2025 às 20:58Atualizado em 04/11/2025 às 10:48
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
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Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
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Envelhecer no Brasil não é algo que podemos chamar de maravilhoso — é um processo invisível e silencioso. O acompanhamento do idoso não deve ser visto como assistencialismo: é dever do Estado. O envelhecimento exige políticas públicas concretas. Nossa população está envelhecendo de forma acelerada, a passos largos.

Hoje, são mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, segundo o IBGE. Em 2000, eram 15 milhões. Já em 2050, um em cada três brasileiros estará nessa faixa etária. Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma nação é considerada “envelhecida” quando mais de 14% da população é constituída de idosos.

Mesmo com essa imensa transformação demográfica, ainda tratamos a velhice como um tema de pouca importância. Não há uma agenda nacional para o problema. Temos medidas isoladas que nem sempre são cumpridas. Há mais celebrações protocolares — como o Dia Internacional do Idoso e o Estatuto do Idoso — do que ações concretas.

Não estamos falando apenas de doenças crônicas, comuns nessa idade, ou dos gastos da previdência pública, que vêm crescendo de forma assustadora. Falamos, sobretudo, de cuidados, acompanhamento e afeto. É preciso fortalecer a rede de proteção contra a violência, ampliar a rede de delegacias do idoso, garantir acesso a terapias e tratamentos psiquiátricos e investir em inclusão digital e produtiva.

O arcabouço legal está aí, mas as ações são isoladas. Raramente se lembra que esses idosos ajudaram a construir o país, trabalharam muito mais que as atuais gerações e agora estão se tornando estatísticas. Cuidar do idoso é dever do Estado e das famílias. Exige políticas concretas e propositivas, de médio e longo prazo.

É urgente colocar na pauta o suicídio entre os idosos. A taxa de suicídio em pessoas com 70 anos ou mais chegou a 11,8 por 100 mil habitantes — quase o dobro da média nacional, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Problemas graves, como violência e abandono, só ganham destaque quando viram vitrine midiática.

Sem uma política nacional de saúde mental voltada às pessoas idosas, com foco na prevenção do suicídio e da depressão, dificilmente o idoso terá alguma qualidade de vida. O SUS poderia ajudar muito, mas faltam estrutura e profissionais especializados na área. Nas regiões remotas e carentes, a situação é ainda pior: há poucos serviços e poucos cuidados.

Temos o diagnóstico. Precisamos de soluções — ou condenaremos milhões de brasileiros a uma velhice marcada por abandono e sofrimento. Como dizem os especialistas, envelhecer não pode ser uma sentença de invisibilidade. Nosso futuro próximo será o de um país de idosos. O que estamos esperando para enfrentar esse novo cenário?

A proteção do idoso passa por medidas que garantam seus direitos e promovam sua qualidade de vida: promover a conscientização e o respeito, combatendo estereótipos e preconceitos; apoiar a família e os cuidadores, oferecendo apoio emocional, financeiro e educacional; garantir acesso a serviços de saúde, assegurando atendimento médico especializado, medicamentos e cuidados necessários; implementar políticas de proteção, com mecanismos de denúncia e apoio para casos de abuso e violência contra idosos; fomentar a inclusão social, promovendo atividades recreativas, culturais e de convivência; garantir direitos previdenciários, assegurando benefícios e serviços que garantam segurança financeira e dignidade; oferecer programas de educação e capacitação, para apoiar a autonomia, a independência e a acessibilidade; estimular a solidariedade intergeracional, aproximando gerações e reforçando laços sociais.

Já somos um país de idosos.