Cultura não nasce de verba pública
Não posso aceitar que interesses particulares usem a palavra “cultura” para impor prioridades

Debate público que nasceu a partir do meu voto dado na Câmara Municipal contra a fixação de 1% do orçamento municipal destinado à Secretaria de Cultura do município tomou um rumo equivocado, chegando à seara do corporativismo. Alguns tentam transformar minha decisão em ataque à Cultura, mas a verdade é exatamente o contrário. Meu voto foi um gesto de responsabilidade, respeito à população e compromisso com prioridades reais do município.
Quando dizem que “sem 1% para projetos culturais a cultura morre”, é aí que vejo que estamos falando de coisas diferentes. A cultura que defendo, e que faz parte da nossa vida, não depende de edital, de conselho, de lei, nem de governo. Cultura é o que nasce do povo: os saberes, os costumes, as festas, as crenças, a culinária, os sotaques, o artesanato, a música que surge espontaneamente. Samba, funk, bossa nova, cordel, hip-hop, religiões de matriz africana, culinária indígena. Nada disso nasceu porque havia verba pública. Nasceu porque existe um povo, sua tradição e história. Essa cultura vive e continuará vivendo.
O que alguns chamam de “a cultura” é, na verdade, apenas o setor artístico financiado pelo Estado. É importante, tem seu valor, merece apoio, mas não representa sozinho toda a riqueza cultural do Brasil. E diferente da cultura viva, esse setor depende de dinheiro público, gera produtos privados e muitas vezes transforma verba pública em lucro particular.
O problema não é apoiar artistas. O problema é transformar esse setor em prioridade obrigatória enquanto ainda temos filas de exames, mães que não conseguem vaga em creche, UPAs lotadas, famílias dependendo da assistência social e bairros inteiros com problemas de segurança e infraestrutura. Amarrar 1% do orçamento para uma única área significa fechar os olhos para necessidades urgentes.
Também não existe estudo sério mostrando que “investir em cultura economiza em outras áreas”. Se esse argumento fosse suficiente, por que não fixar porcentagens obrigatórias para esporte, saúde mental, tecnologia, habitação ou saneamento? O orçamento é limitado. Governar é escolher. E as escolhas precisam refletir o interesse coletivo, não a vontade organizada de um segmento.
Meu voto foi contra engessar o orçamento, não contra a cultura. Foi um voto em defesa da cidade, das prioridades básicas e da gestão responsável. Defendo a cultura justamente porque a reconheço como algo muito maior que verbas e editais. A cultura verdadeira não depende do Estado. Ela está nas pessoas, nas ruas, nas famílias, nas tradições.
Não posso aceitar que interesses particulares usem a palavra “cultura” para tentar impor prioridades que não representam as necessidades da maioria. Respeito a cultura por entender sua grandeza e autonomia. Meu voto não a atacou. Meu voto a defendeu, junto com o bom senso, o equilíbrio e a responsabilidade.
Eduardo Tedeschi
Vereador de Rio Preto.