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Conjuntura

DÉFICITS GÊMEOS, A CONTA VIRÁ

O Brasil tem um dos maiores rombos, que trazem problemas difíceis de serem resolvidos; seja qual for o presidente eleito em 2026, terá dificuldade para governar com tamanha dívida

por Hipólito Martins Filho
Publicado em 22/09/2025 às 21:22Atualizado em 23/09/2025 às 11:43
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
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Os déficits gêmeos, que são as contas fiscais e externas, vêm se deteriorando e, a médio prazo, poderão afetar o desenvolvimento econômico do Brasil e provocar a perda de confiança dos investidores internos e externos.

O governo atual vem gastando bem mais do que arrecada, produzindo rombos internos que podem fugir do controle. Boa parte do crescimento da economia brasileira vem ocorrendo em função do aumento da dívida pública, e não em função de novas tecnologias e aumento da produtividade. O governo está gastando acima de sua capacidade de arrecadação.

As consequências virão para a sociedade em forma de inflação, taxas de juros altas, menos investimentos e mais desemprego. E, como 2026 é ano eleitoral, a situação pode se complicar ainda mais. O governo atual não tem nenhum compromisso com as contas públicas.

O momento atual é muito parecido com o que aconteceu na pré-crise do segundo mandato de Dilma Rousseff e, se comparado com a maioria dos países, o Brasil tem um dos maiores rombos, que trazem problemas difíceis de serem resolvidos.

Os “déficits gêmeos” ocorrem quando um país apresenta simultaneamente um déficit nominal e outro na conta corrente — este, em relação a outros países. O que está consolidando esses déficits, neste momento, é o fato de a economia ter ficado desequilibrada e aquecida demais após dois anos e meio de gastos públicos insustentáveis sob Lula.

Hoje, a taxa de juros está em 15% ao ano para conter a inflação. Isso acaba provocando gastos excessivos, já que os juros pagos para rolar boa parte da dívida pública fazem parte do déficit nominal.

No caso do déficit em conta corrente, o saldo é negativo, considerando a entrada e saída de dólares, ou seja, importações e exportações, pagamentos líquidos de transferência. Alguns dados mostram essa trajetória.

Na questão fiscal, os gastos com juros do setor público têm um peso assustador. Nos 12 meses encerrados em julho, essa despesa se aproximou de R$ 1 trilhão. Sendo assim, o déficit do governo central sob a tutela de Lula ficou em 7,12% do Produto Interno Bruto (PIB). Se considerarmos União, estados e municípios, terminaremos o ano em 8,5%.

Por consequência, os juros aumentam a dívida pública bruta, que já atingiu 77,5% do PIB em julho. Houve uma expansão de seis pontos percentuais em pouco mais de dois anos e meio sob Lula. Se compararmos a outros países, emergentes ou desenvolvidos, poucos se endividaram tanto.

Seja qual for o presidente eleito em 2026, terá dificuldade para governar com tamanha dívida.

Com as contas externas não é diferente: estão negativas. O déficit em conta corrente saltou de 1,4% do PIB para 3,5% em 12 meses. Essa piora se explica pelo fato de a balança comercial apresentar saldo menor do que o esperado, somado ao aumento das saídas líquidas de serviços e renda, como a remessa de lucros e dividendos.

Já no déficit nominal, o Brasil não consegue gerar superávits primários recorrentes, ou seja, ter receitas maiores do que despesas. O que preocupa é que, quando os gastos públicos começam a fugir do controle, o setor privado passa a investir menos, devido às incertezas.

O economista Armínio Fraga destaca que o investimento público no Brasil caiu de 5% do PIB para menos de 2% nas últimas décadas. Apesar do gasto estatal ter subido de cerca de 25% do PIB para 34%, no total se investe apenas 17% do PIB — comparado a 35% em países asiáticos e acima de 25% em países desenvolvidos. Dá para competir?