Em defesa da mulher pedagoga
A realidade vivida pelas professoras é marcada por preconceito e desvalorização

No dia 6 de junho, oito professores do Sesi de São José do Rio Preto foram desligados da instituição de forma abrupta, retirados de suas salas de aula sem aviso prévio ou qualquer indício anterior de que seus trabalhos estivessem em desacordo com as diretrizes da escola. Dentre esses profissionais, seis são professoras pedagogas que participaram ativamente da greve promovida pelo corpo docente no mês de março/25.
A mobilização visava reivindicações legítimas e urgentes — e talvez, por isso mesmo, tenha ferido o ego de alguns dentro da estrutura institucional. O desligamento dessas educadoras soa, portanto, como um claro ato de retaliação, uma tentativa de instaurar a cultura do medo entre os professores. É dessa forma que muitos educadores vêm sendo tratados: por meio da violência simbólica e material.
É de conhecimento geral — embora muitos escolham ignorar — que a realidade vivida pelas professoras pedagogas é marcada por preconceito e desvalorização. Assim como ocorre com o trabalho das mulheres dentro de seus lares e na sociedade em geral, o ofício da pedagoga, fundamental na formação das crianças, é sistematicamente negligenciado.
Os alarmantes índices de feminicídio gritam diariamente a urgência de refletirmos sobre a violência estrutural contra a mulher. No campo da educação, a professora pedagoga — responsável pela alfabetização, pelos cuidados básicos e pela promoção do equilíbrio emocional das crianças — continua recebendo salários inferiores aos de professores especialistas. Essa disparidade salarial, historicamente imposta às mulheres, persiste de forma alarmante na área da pedagogia, justamente por ser uma profissão majoritariamente feminina.
Essa desigualdade econômica não apenas representa uma injustiça trabalhista, mas também empurra milhares de mulheres para situações de vulnerabilidade e risco, atingindo diretamente suas famílias e, especialmente, seus filhos. A realidade em São José do Rio Preto não é exceção — ela espelha o descaso enfrentado por essas profissionais em diversas regiões do país.
A precarização financeira vem acompanhada de desprezo institucional, assédios morais, deslegitimação intelectual, negligências e, não raramente, desligamentos arbitrários, como se essas mulheres fossem descartáveis. Essa espiral de violência simbólica e material empurra educadoras comprometidas à margem da dignidade profissional e social. É urgente que se denuncie, se debata e se combata essa realidade. Defender a mulher pedagoga é defender a educação, a infância e o futuro.
Aline Stones
Professora pedagoga; mestre em educação pela Unesp. Militante decolonial. Membro do coletivo Mulheres na política.