Esquerda, direita
Quando estão no governo, os políticos tendem a mudar o discurso adotado na campanha

O noticiário político vem recheado com as expressões “políticos de direita”, “políticos de esquerda”, “políticos de centro”. São expressões usuais, que designam o pensamento e a posição, não só de políticos, mas também dos cidadãos que têm alguma atuação política. Mas, enfim, essas expressões ainda teriam alguma importância nos dias de hoje, de crescente globalização? Depois da derrocada do bloco soviético, houve um embaralhamento das posições políticas diante da perplexidade provocada pelo desmonte da fonte ideológica outrora representada pelo comunismo soviético.
Originalmente, as expressões “direita”, “esquerda” e “centro” representavam apenas os lugares ocupados pelos deputados no plenário da assembleia constituinte, durante os desdobramentos da Revolução Francesa, iniciada em 1789. Os deputados mais exaltados e revolucionários, que pregavam as mudanças mais radicais na sociedade, sentavam-se à esquerda, no recinto da assembleia. À direita, ficavam os conservadores, que lutavam para manter os privilégios das classes mais favorecidas, eram contra as mudanças profundas, e sonhavam com reformas que viessem em seu benefício. E, ao centro, ficavam os deputados que ora pendiam para um lado, ora para outro.
Em virtude da força emblemática que a Revolução Francesa exerceu sobre o mundo todo, essa simbologia tornou-se universal. Desde então, as pessoas e os políticos comprometidos com as mudanças radicais em favor do povo são tidos como de esquerda; os conservadores são de direita, e no centro ficam aqueles que, de fato, não estão nem de um lado e nem de outro; no linguajar atual, estão “em cima do muro”.
O espectro político abrange um leque de posições ideológicas que, embora não façam muito sentido no mundo atual, ainda são empregadas, conforme o grau de engajamento político com as teses defendidas. Por exemplo, a extrema-esquerda é identificada com os grupos revolucionários, que defendem causas populares e são ligados à luta armada; já a extrema-direita são os grupos ultraconservadores, vinculados aos movimentos racistas, contrários aos estrangeiros, imigrantes, etc. É interessante notar que muitos políticos não aceitam essa classificação, principalmente quando são taxados de conservadores. Afinal, todos querem ser comprometidos com as causas sociais, mesmo os que não são.
O fato é que, quando estão no governo, os políticos tendem a mudar bastante o discurso adotado na campanha eleitoral. Afinal, todos sabem que prometer é fácil, difícil é fazer. Ao assumir o governo, o político se depara com a fria realidade dos números do orçamento, e, o que é pior, com as alianças políticas costuradas para viabilizar a sua eleição. O apetite dessas alianças políticas é enorme, e, para satisfazê-lo, infelizmente, muita coisa deixará de ser realizada. O estrago estará feito, e aí tanto faz se são de direita ou de esquerda.
João Francisco Neto
Advogado, doutor em Direito Econômico e Financeiro (USP). Monte Aprazível