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ARTIGO

Estoicismo: filosofia da serenidade e da razão

A meta estoica é atingir ataraxia, tranquilidade de espírito obtida pela liberdade diante das paixões

por Paulo Henrique Alves Togni
Publicado em 23/09/2025 às 19:48Atualizado em 24/09/2025 às 11:02
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O estoicismo, fundado por Zenão de Cítio no séc. III a.C., é uma filosofia prática voltada à serenidade e ao domínio da razão. Desenvolvido por Cleantes e Crisipo e difundido por Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, defende viver conforme o Logos, princípio racional que ordena o cosmos. Divide-se em lógica, física e ética; esta é central: a virtude é o único bem verdadeiro, enquanto riqueza, fama ou saúde são “indiferentes”. A felicidade (eudaimonia) nasce da vida virtuosa e do foco no que depende de nós — julgamentos e ações — aceitando com calma o que foge ao controle.

A meta estoica é atingir ataraxia, tranquilidade de espírito obtida pela liberdade diante das paixões desordenadas. Não se trata de frieza, mas de equilíbrio racional, evitando ser escravizado por medo, ira ou desejo excessivo. Marco Aurélio ensinava que a mente interpreta os fatos, podendo transformá-los em oportunidade de dignidade. Epicteto afirmava: “não são as coisas que nos afligem, mas os julgamentos que fazemos delas”.

Entre as práticas destacam-se: exame diário da consciência, previsão de dificuldades (premeditatio malorum), distinção entre o que depende ou não de nós, reflexão sobre a impermanência e cultivo da gratidão. Esses exercícios fortalecem coragem, justiça e resiliência, preparando para agir com retidão mesmo em meio a contratempos.

O estoicismo influenciou o cristianismo primitivo e filósofos como Descartes, Spinoza e Kant, além de inspirar abordagens modernas, como a terapia cognitivo-comportamental, que compartilha a ênfase na reestruturação racional dos pensamentos. No presente, cresce o interesse por suas lições, que ajudam a enfrentar ansiedade, estresse e decisões complexas.

Seus ensinamentos podem ser sintetizados em cinco eixos: (1) autodomínio das emoções; (2) foco no presente e no que depende de nós; (3) antecipação mental das adversidades para cultivar firmeza; (4) a virtude como finalidade maior — justiça, coragem, sabedoria e moderação; (5) aceitação da natureza e do destino, reconhecendo a ordem universal e a inevitabilidade da perda e da morte.

Apesar de antiga, essa filosofia permanece atual ao propor uma resposta atemporal aos desafios humanos: não podemos controlar o destino, mas podemos governar atitudes e interpretações. A verdadeira liberdade está em ajustar a mente ao fluxo inevitável da vida, vivendo com significado, serenidade e em harmonia com o mundo.

Paulo Henrique Alves Togni

Médico, Acadêmico da Academia Maçônica de Letras e Cultura do Noroeste Paulista.