Estudar é importante
Relatório da OCDE mostra que quem tem ensino superior no Brasil ganha, em média, 140% a mais do que quem conclui apenas o ensino médio — mas evasão e desvalorização do estudo ameaçam avanços sociais

Não há como amenizar as desigualdades no Brasil sem investir amplamente em acesso e permanência escolar. Ainda assim, cresce no país a ideia de que “não vale a pena estudar” — percepção preocupante em um cenário em que o diploma continua sendo um dos principais fatores de mobilidade social.
O relatório Education at a Glance 2025, divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reforça essa contradição. Segundo o estudo, os trabalhadores brasileiros com ensino superior ganham, em média, 140% a mais do que aqueles que têm apenas o ensino médio — um dos diferenciais mais altos do mundo, muito acima da média dos países da OCDE.
A relação é clara: quanto maior o nível educacional, maior a empregabilidade e o rendimento. O problema é que o acesso ao ensino superior continua restrito a uma parcela da população, perpetuando desigualdades que começam muito antes da vida adulta.
O peso da origem familiar
O estudo mostra também que a escolaridade dos pais é um dos principais determinantes da trajetória educacional dos filhos. Isso explica por que, em países como o Brasil, Colômbia e Costa Rica — onde menos de um terço dos adultos têm diploma universitário — os retornos salariais da educação são altos, mas o avanço social é limitado.
Nos países em que o ensino superior é mais disseminado, os ganhos salariais individuais são menores, porém há maior inclusão e equilíbrio social. No Brasil, um em cada cinco estudantes abandona a faculdade ainda no primeiro ano, segundo dados do Inep. A evasão é alimentada por dificuldades financeiras, desmotivação e pela baixa qualidade de parte dos cursos.
Educação de qualidade transforma sociedades
Os efeitos da escolaridade vão muito além da renda. Populações mais educadas apresentam melhores indicadores de saúde, menor incidência de doenças crônicas e maior expectativa de vida. Além das competências cognitivas, a escola é o espaço onde se desenvolvem habilidades socioemocionais fundamentais — como perseverança, trabalho em equipe e capacidade de resolver problemas.
Mesmo em contextos de vulnerabilidade, ampliar o acesso à educação é uma das formas mais eficazes de quebrar ciclos de pobreza.
Entre os jovens, entretanto, cresce uma visão distorcida de sucesso. Muitos são influenciados por figuras que ascenderam rapidamente nas redes sociais ou pelo discurso do empreendedorismo instantâneo. Essa idealização cria uma falsa impressão de que a educação formal perdeu valor, quando, na prática, a ausência dela tende a limitar oportunidades.
Há também o imediatismo: enquanto as carreiras tradicionais exigem tempo, preparo e experiência, o universo digital vende a promessa de retorno rápido. E, embora o Brasil tenha ampliado a parcela da população escolarizada, o aumento da oferta de profissionais qualificados pressionou salários e ampliou a informalidade, inclusive entre os mais instruídos.
As novas gerações, por sua vez, já sinalizam que não aceitam os mesmos modelos de trabalho impostos aos pais. Querem flexibilidade, propósito e ascensão mais rápida. As empresas perceberam o movimento e começam a adaptar seus modelos de gestão e carreira.
Ainda assim, a equação é inequívoca: sem educação de qualidade e com oportunidades restritas, o Brasil continuará preso a um ciclo de desigualdade e baixa produtividade. Investir na escola — e garantir que os alunos permaneçam nela — continua sendo o melhor projeto de futuro que um país pode ter.