Diário da Região
CONJUNTURA

Inquietações

por Ary Ramos da Silva Júnior
Publicado em 27/09/2025 às 03:22
Ary Ramos da Silva Júnior (Ary Ramos da Silva Júnior)
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Ary Ramos da Silva Júnior (Ary Ramos da Silva Júnior)
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O mundo contemporâneo nos traz grandes desafios e oportunidades, vivemos numa sociedade marcada por grandes desenvolvimentos tecnológicos, máquinas e novos equipamentos trouxeram grandes avanços para a sociedade global, doenças agressivas que foram responsáveis por milhões de mortes de indivíduos foram eliminadas. O sistema econômico passou por novos modelos de negócios, o marketing ganhou relevância e os seres humanos, para sobreviverem, passaram a desenvolver novas habilidades emocionais, construírem novos comportamentos e valores, estimulando novas formas de inovação, uma verdadeira revolução que impactou sobre as pessoas, os relacionamentos, as famílias, os valores e as necessidades humanas.

Os modelos econômicos e produtivos anteriores transformaram os comportamentos humanos, o estudo e a busca crescente pelos conhecimentos abriam novos horizontes para a comunidade, a obtenção de um curso superior consolidava novas habilidades profissionais, as religiões ganhavam adeptos e os cultos eram espaços de fortalecimento dos laços sociais e comunitários, as famílias cresciam e se consolidavam como um ator central na sociedade, todos buscavam estabilidade econômica, emocional e espiritual, esperando uma aposentadoria digna e decente que pudessem consolidar uma vida de trabalho.

Nesta sociedade em constante transformação, percebemos grandes modificações, as gerações passaram por alterações crescentes de valores, novos comportamentos e novas motivações, anteriormente as pessoas por volta dos quarenta anos falavam em casa própria, estabilidade, relacionamentos sólidos e duradouros, buscando casamentos e, posteriormente os filhos, buscando uma formação e constituição familiar.

Na atualidade, para pessoas da mesma idade, percebemos novos comportamentos e novas conversas, agora, estão falando sobre boletos, faturas atrasadas, dívidas acumuladas, qualificação profissional constante, valor do aluguel, ansiedades, depressão e uma sensação de que a vida está sempre atrasada. O cotidiano do indivíduo da meia idade passou por grandes alterações, essa geração percebe na pele que estão envelhecendo rapidamente, sem estabilidade, sem segurança profissional, aposentadoria precária, endividamento elevado ou, neste cenário preocupante, buscando se reinventar constantemente, para descobrir ou redescobrir o que é viver bem.

Pesquisas feitas pela revista Fortune mostram que essa geração ganha, em média, menos que seus pais recebiam em nossas idades, além do salário menor, percebemos que os custos de vida cresceram, o aluguel disparou sensivelmente, a previdência social nos parece inalcançável e o emprego, cada vez mais instável e incerto, marcados por fortes instabilidades, desta forma, é impossível que os indivíduos construam um planejamento futuro, com isso, percebemos o incremento das ansiedades, os medos e os ressentimentos.

Essa geração, chamada de millenials, está vivendo a crise da meia idade, uma sociedade centrada na volatilidade, no individualismo, no imediatismo, a cultura do sucesso se transformou em uma verdadeira tirania, convivendo constantemente com a exaustão física, exploração profissional, salários degradados, benefícios sendo reduzidos, aumento do burnout, reinvenções profissionais forçadas, dívidas acumuladas e o peso de não ter seguido o roteiro prometido pelo mercado, promessas e mais promessas, quando param para perceber, o tempo passou...

Neste ambiente, percebemos um choque constante entre as promessas do capitalismo contemporâneo e o que o mundo se tornou, um ambiente mais incerto e competitivo, onde foram prometidos estabilidade, ascensão profissional e prosperidade econômica e, ao invés disso, percebemos a perpetuação da instabilidade, da precariedade e do crescimento constante e sistemático das cobranças cotidianas. Neste cenário de degradação e instabilidades, percebemos que estamos envelhecendo, sem perspectivas, sem previdência e sem esperanças de dias melhores.

Ary Ramos da Silva Júnior

Bacharel de Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário