‘Julho de Pretitude’ - Meu aquilombamento
Uma experiência de resistência, aprendizado, articulação política, cultural e muita partilha

Aquilombamento foi que pude viver e sentir durante esse mês. Julho sempre me foi muito especial pois nele nasceram pessoas importantes na minha vida, e a maior delas, meu pai, Laerte Cunha, in memorian.
Há trinta e um anos atrás também eu renasci, sim, renasci quando me iniciei no Candomblé, renascimento este para espiritualidade e que me trouxe a consciência e o conhecimento real da minha ancestralidade.
Na religiosidade do Candomblé também comemoramos Xangô, Orixá da Justiça. Ainda reverenciamos Tereza de Benguela, Léllia Gonzalez, Sueli Carneiro, Nelson Mandela, dia Mundial da Capoeira, dia Nacional do Combate à Discriminação Racial, entre outros.
E após todos esses anos, durante o meu segundo mês preferido, eu pude vivenciar esse aquilombamento. Uma experiência de resistência, aprendizado, articulação política, cultural e principalmente muita partilha.
Sentimentos que palavras não conseguirão descrever. Desde trocas artístico-culturais com um coletivo negro e identitário na cidade de Barretos, Grupo TENBA, a minha participação em um seminário e na 3ª Marcha da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha de São José do Rio Preto.
Experimentei muita tradição oral, cultura, resistência e poder. Pois quando se fala que o mês de julho é o “Mês das Pretas” ainda é pouco para a dimensão do que pude sentir.
Aquilombar-se, em pleno século XXI, não é retrocesso e sim avanço, conquista, estratégia, combate e resistência. Ser mulher preta nesse período deve nos envaidecer, sim, pois as tantas negras que nos antecederam com certeza não tiveram tempo para tal sentimento.
Ainda muito movida por esse turbilhão de sentimentos, tento rascunhar esse texto, que mesmo com milhares de caracteres a mais eu não conseguiria externalizar tudo.
Reverencio a toda a ancestralidade que percorreu árduos e até fatais caminhos para que hoje pudéssemos estar aqui. É preciso ocupar nosso espaço nesse Mercado de Exu. Sentarmos à mesa em igualdade e equidade. É necessário, como disse Sueli Carneiro, “enegrecer”. Sim, viabilizar, ocupar, enaltecer o protagonismo preto, da Mulher Preta. Desbancar a hegemonia branca, machista e heterossexual. É preciso transbordar nossa força, beleza e amor. Acreditar que estamos colhendo o que nossas antecessoras plantaram, regando e adubando para que futuras gerações possam colher e assim continuar esse ciclo.
Roberta dos Santos Cunha
Atriz e arte-educadora, membra do coletivo Mulheres na Política