NOVEMBRO NEGRO
A verdade é que a herança da escravização é um fardo que pesa sobre muitos ombros

Estamos nos aproximando do mês da Consciência Negra, um período que, mais do que celebração, é um convite à reflexão profunda. As ruas começam a se encher de cartazes, debates e eventos que buscam resgatar a memória de um povo que, por séculos, clamou por dignidade e reconhecimento. Nesse contexto, surgem muitas perguntas e exclamações. “Eu me confundi”, “racismo não é crime”, “eu tenho preconceito” são algumas das falas que ecoam, revelando um certo desconforto em lidar com a história. E quem pode esquecer a clássica sugestão: “Precisamos do dia da consciência humana”?
Essas falas, embora possam parecer inofensivas, revelam uma falta de entendimento sobre a profundidade do que significa ser descendente de uma história marcada pela opressão. O que muitos não percebem é que, por trás de cada questionamento, há um convite para o diálogo, uma abertura para o aprendizado. Afinal, por que essas pessoas clamam há tanto tempo? O que há por trás do lamento que ecoa nas vozes de quem carrega uma herança tão pesada?
A verdade é que a herança da escravização não é um fardo que pesa apenas sobre os ombros dos descendentes de pessoas escravizadas. Ela reverbera também nos que, por séculos, se beneficiaram desse sistema opressor. A história do Brasil é uma tapeçaria complexa, onde cada fio, cada narrativa, se entrelaça com a dor e a resistência. Para os negros, é a luta incessante por reconhecimento e igualdade. Para os brancos, um convite a olhar para o passado e reconhecer como as estruturas sociais e econômicas foram moldadas por essa violência.
É inegável que essa herança ainda vive entre nós. O racismo estrutural, que permeia instituições e relações sociais, é um reflexo direto dessa história. E, enquanto poucos se questionam sobre suas raízes, muitos ainda se incomodam em ouvir as vozes que clamam por justiça. Essa resistência em ouvir é, talvez, um dos maiores obstáculos para a construção de um futuro mais igualitário.
Portanto, ao chegarmos ao mês da Consciência Negra, que possamos nos permitir mais do que apenas comemorar. Que possamos ouvir, questionar e, principalmente, aprender. Que cada pergunta que surge seja uma oportunidade para o diálogo, e que cada exclamação não seja um sinal de desconforto, mas um convite para a transformação. Afinal, a consciência negra não é apenas uma data no calendário; é um chamado à ação, uma lembrança de que a história é viva e que todos nós, de alguma forma, estamos interligados por ela.
Claudionora Elis Tobias
Presidente do Conselho Municipal Afro.
Diretora Tesoureira da 22 Subseção da OAB
Líder do Comitê de Igualdade Racial – Grupo Mulheres do Brasil – Nucleo São José
do Rio Preto/SP