Diário da Região
RADAR ECONÔMICO

O agro é mais tech que outros setores

Estudo mostra que patentes de tecnologias digitais aplicadas à agricultura crescem três vezes mais rápido do que a média de outros setores, a uma taxa de 9,4% ao ano na última década

por Jacyr Costa Filho
Publicado em 23/09/2025 às 19:46Atualizado em 24/09/2025 às 11:02
Jacyr Costa Filho (Jacyr Costa Filho)
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O Escritório Europeu de Patentes divulgou na semana passada (18/9) um estudo muito interessante: as tecnologias digitais aplicadas à agricultura estão crescendo três vezes mais rápido do que a média global de outros setores. Patentes relacionadas a inteligência artificial, sensores, automação e robótica agrícola aumentaram a uma taxa média de 9,4% ao ano na última década. Isso reflete a necessidade de se produzir mais com menos recursos, de forma sustentável.

Entre 2000 e 2022, a América Latina registrou crescimento anual de 10,8% em patentes ligadas à agricultura digital, uma das taxas mais altas do mundo. Estados Unidos, China e União Europeia lideram os pedidos de proteção intelectual nesse campo, sinalizando que tecnologia agrícola é, cada vez mais, um ativo geopolítico.

O Brasil, maior potência agroalimentar dos trópicos, é um dos expoentes deste segmento. Segundo o site AgFunderNews, as agtechs movimentaram mais de R$ 1 bilhão em investimentos em 2024, voltados para agricultura de precisão, bioinsumos, drones, softwares de gestão e inteligência artificial aplicada ao campo. Sensores de solo, estações meteorológicas conectadas, algoritmos de previsão de safra e pulverização com drones já fazem parte da rotina de grandes produtores. Mais ainda temos desafios em relação à conectividade rural, à tributação elevada sobre equipamentos e ativos imobilizados e a escassez de mão de obra qualificada.

O impacto potencial é imenso. Tecnologias digitais reduzem desperdícios no uso de fertilizantes e defensivos e de água na irrigação, ampliam a previsibilidade da produção e atendem à crescente demanda internacional por rastreabilidade.

E falando em investimentos em tecnologia, um dos setores em que o Brasil avançou muito foi no desenvolvimento do negócio de melhoramento genético de diferentes culturas ao longo dos últimos anos, principalmente em sementes. No entanto, há muitos desafios para evoluir na pesquisa de novas variedades de cana-de-açúcar. Hoje, pela Lei de Proteção das Cultivares (LPC), a proteção dessas cultivares dura o mesmo tempo que de culturas de ciclo curto, como milho ou soja: apenas 15 anos. Isso significa que, quando a variedade começa a mostrar todo o seu potencial, o direito de quem investiu na pesquisa já está acabando, o que a torna pouco atrativa para as empresas do setor.

Várias empresas, como Syngenta, Corteva e Bayer iniciaram projetos, mas abandonaram. Ficamos dependentes dos centros de pesquisa ligados ao setor público, financiados pelos cada vez mais escassos recursos dos governos e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que hoje é a melhor referência na pesquisa de cana-de-açúcar.

A proposta, que tem um projeto em tramitação no Congresso, é ampliar esse prazo para 25 anos, como já recomenda a UPOV (União internacional para proteção de novas variedades de plantas), permitindo maior atratividade para os necessários investimentos. Assim, o Brasil pode acelerar inovações, ganhar produtividade e manter sua liderança mundial em biocombustíveis e alimentos.

Jacyr Costa Filho

Presidente do Cosag - Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da consultoria Agroadvice