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O futuro é Def

Nosso lema “Nada sobre nós, sem nós” precisa se tornar prática concreta e cotidiana

por Vanessa Cornélio
Publicado em 16/09/2025 às 19:45Atualizado em 17/09/2025 às 09:41
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A luta anticapacitista precisa estar no centro de todo evento que trate das pessoas com deficiência. Não basta falar sobre nós sem garantir o protagonismo de quem vive essa realidade.

A abertura da Semana de Conscientização e Luta da Pessoa com Deficiência nos deu a oportunidade de conhecer instituições que realizam trabalhos importantes, mas também nos alertou sobre o quanto ainda precisamos avançar. Reconhecemos a relevância dessas entidades que oferecem suporte essencial, mas mesas de debate sem a presença ativa de pessoas com deficiência revelam uma contradição que já não cabe.

Nosso lema “Nada sobre nós, sem nós” precisa deixar de ser apenas bandeira e se tornar prática concreta e cotidiana. Essa construção tem, inclusive, respaldo legal. A Lei nº 11.133/2005 institui o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, e a Lei nº 13.585/2017 estabelece a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Ambas preveem que a sociedade volte, anualmente, o olhar para a inclusão, os direitos e o combate ao preconceito.

Não se trata de favor: é dever legal e ético assegurar que esses espaços existam e que sejam ocupados com escuta ativa das próprias pessoas com deficiência. O que mais chamou atenção, porém, foi a ausência do poder público. Prefeito, vereadores que não compareceram quando mais precisamos discutir políticas que garantam dignidade, acesso e oportunidades iguais. Esse vazio é simbólico: como avançar em acessibilidade e inclusão sem o comprometimento de quem tem a responsabilidade institucional de transformar a cidade?

Acessibilidade não é apenas rampa ou elevador. É o direito de existir sem ser reduzido a estigmas capacitistas. É autonomia, derrubar barreiras físicas, culturais e institucionais, construir uma sociedade que celebre a diversidade. O futuro não será concedido. Ele será conquistado pela força coletiva das pessoas com deficiência, suas famílias, instituições e aliados que não aceitam retrocessos. O futuro é Def: diverso, resistente e revolucionário.

Vanessa Cornélio

Artista com deficiência, delegada da V CNPM, conselheira do CEAPcD, membra do Coletivo Mulheres na Política