O grande mistério da vida
Como está instalada, neste aglomerado de átomos, a inteligência, a nutrição, a respiração?

Atuei por 36 anos em vários cursos superiores, em várias faculdades e nunca consegui, explicar, sem falsa modéstia, com tudo o que li, estudei e estudo sobre a vida. Perguntado por uma imensidão de alunos o que é a vida, o máximo que consegui responder foi: não sei... e arriscava uma resposta vazia: “é o princípio que anima a matéria”.
Massaharo Taniguchi ensinava: “A vida não tem princípio nem fim, não morre nem desaparece; a vida não está contida numa escala do tempo”. Albert Einstein, em seu livro "Como vejo o mundo", arriscava dizendo "não me canso de contemplar o mistério da eternidade da vida".
Apenas uma tênue linha imaginária separa as moléculas mais complexas. Aí reside mais um grande mistério, um insolúvel mistério. Como átomos se convertem em seres vivos? Como está instalada, neste aglomerado de átomos, a inteligência, a nutrição, a reprodução, a irritabilidade, a respiração? A membrana celular é uma coleção de funções; o núcleo, as mitocôndrias (que foram agregadas às células na interminável linha do tempo e da evolução como uma grande usina de força), a divisão e a multiplicação celular, e sem deixar de citar a reprodução de novos seres na linha eterna da genética.
A biologia nega-se a tentar definir vida. E razão sejam dadas aos estudiosos da vida. Oparin em seu livro “A origem da vida”, num claro desabafo e frustração diante da complexidade do assunto, afirmou: "A ciência da natureza tinha o dever de explicar de que modo a matéria inerte adquiriu a vida" e ele mesmo, recostado à sua cadeira, disse: "A matéria adquire vida exatamente porque não a possui em si mesma". Desfeito o mistério?
O tema vida envolve o mundo científico sob várias formas. Os espiritualistas estão acostumados com expressões que mesclam ciência com o conhecimento humano em todo o planeta. Os materialistas apostam na tese de que a vida não é biológica e sim que apenas os fenômenos vitais são propriedades da vida. Os idealistas também apostam na tese de que a vida nada tem de biológica.
Einstein mediu que 99,998% dos componentes do universo são energia e que os restantes 0,002% são matéria. E de novo a pergunta: como esta matéria, tão ínfima, abriga os mais complexos dos segredos humanos? O que é a vida?
No mundo científico, é vista, como insensatez, o estudioso que se aventura em definir vida sem cair em enormes pirâmides de dúvidas e de incertezas. A corrente dos idealistas já deduziu que a vida não é biológica, sendo biológicos apenas os fenômenos vitais por ela desencadeados.
Mesmo um iniciante do estudo da vida sabe que as funções ditas paranormais são exercidas fora das limitações do tempo e do espaço, que não existem, sendo meras ficções da mente humana. James Hopwood Jeans, astrônomo e matemático britânico, ensinava que aquilo que chamamos vida corresponde apenas aos meios visíveis da vida de uma projeção tridimensional da própria vida.
Huberto Rhoden, professor e conferencista brasileiro, nos ensinou que o “Universo é um abismo de cuja Essência Infinita (Deus) faz brotar, sem cessar, existências infinitas, da mesma forma como nascem no seio das águas imensas, a vida, que, recaem neste mesmo ciclo eterno, e assim sempre foi e será”.
Vida é a essência que transcende, sem princípios nem fim. Em síntese: hoje, como ontem e como sempre, o tema vida está rodeado e protegido como a joia rara da coroa universal, a pedra filosofal de tudo que permeia o conhecimento humano e é mais fugidio que a fumaça fina da chuva ou mesmo a luz do Sol.
A vida é, pois, imanente e transcendente à matéria e, como devo dizer, da mesma forma que Deus o é em relação ao Universo e ao conhecimento humano.
Antonio Caprio
Biológo e estudioso da vida. Tanabi