O grito silencioso de quem decide parar
É tempo de construir uma nova narrativa de sucesso. Uma que inclua a pausa

Bia Haddad, a principal tenista do Brasil, anunciou o fim da sua temporada. Não por conta de uma lesão física, mas para cuidar da própria saúde mental.
A notícia correu o mundo — e surpreendeu muita gente. Afinal, ainda é raro ver alguém parar “sem ter quebrado” fisicamente. Quando um corpo se machuca, a sociedade compreende. Mas quando é a mente que sangra, a cobrança continua: “Aguenta mais um pouco. Você dá conta. Respira fundo e vai.”
Vivemos em uma cultura que normaliza o excesso. Glorifica o desempenho. Aplaude quem não para nunca. Quem segue mesmo com insônia, crises de ansiedade, apatia, dores crônicas. Quem sorri enquanto adoece.
Mas até quando isso é sustentável?
A ciência é clara: o estresse crônico modifica o cérebro, afeta a imunidade, prejudica a tomada de decisão e compromete vínculos. Segundo a OMS, a saúde mental é uma das principais causas de afastamento do trabalho no mundo — e segue crescendo. O Brasil, infelizmente, ocupa o topo dos rankings de ansiedade e burnout na América Latina.
Parar, nesse contexto, é um ato de inteligência. De autoconsciência. De respeito à vida.
Como especialista em Neurociência e Psicologia Positiva, vejo todos os dias o impacto do “piloto automático” na saúde emocional de profissionais, líderes e equipes. São pessoas que entregam tudo — menos tempo pra si mesmas. Que performam brilhantemente — mas choram escondido no banheiro. Que têm agendas lotadas — e uma sensação constante de vazio.
Por isso, quando uma atleta como Bia diz “não” ao ritmo destrutivo e escolhe a própria saúde mental, ela não está apenas fazendo história. Ela está abrindo espaço para todos nós.
Porque parar não é fracassar.
Parar é interromper a trajetória do adoecimento.
Parar é reconhecer que nenhuma medalha vale mais do que a própria vida.
Essa escolha precisa ser respeitada. Mas, acima de tudo, precisa ser ensinada. Urgentemente.
É tempo de construir uma nova narrativa de sucesso. Uma que inclua a pausa. O limite. A vulnerabilidade. E o direito inegociável de se cuidar.
Bruna Bârbosa
Jornalista, especialista em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness.