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ARTIGO

O peso do giz e o silêncio do cansaço

A desvalorização social resulta em desmotivação e adoecimento dos professores

por Vitória Marques de Oliveira Cardoso
Publicado em 28/10/2025 às 22:26Atualizado em 29/10/2025 às 09:30
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Em 15 de outubro de 2025, celebramos o Dia do Professor, uma das profissões mais nobres e essenciais para a construção de uma sociedade justa. Esses mestres são os alicerces do conhecimento e da cidadania, guiando-nos com paciência e sabedoria desde o berçário até o tão sonhado diploma. São eles que acendem a chama do saber, inspiram sonhos e transformam vidas, pois antes de qualquer conquista, houve um professor que acreditou.

Entretanto, por trás de cadernos e quadros cobertos de giz, há uma realidade pouco vista: sobrecarga, falta de estrutura e esgotamento emocional. Além de ensinar, o professor precisa lidar com questões emocionais e sociais dos alunos, enfrentando a carência de recursos e apoio pedagógico.

No que tange à falta de estrutura, muitas escolas carecem de materiais básicos e tecnologia, forçando o docente a se reinventar com o pouco que tem, tentando resolver problemas que nem sempre são de sua alçada. Isso gera frustração e perda de tempo, que poderiam ser dedicados ao planejamento e à inovação em sala.

Apesar da dedicação, a remuneração é desproporcional à formação exigida, e a desvalorização social resulta em desmotivação e adoecimento.

Outro desafio é a visão distorcida do papel da escola: há famílias que tratam a instituição como um “depósito de filhos”, eximindo-se do dever de educar e ensinar limites. A educação moral e social nasce na família; à escola cabe ampliar o conhecimento e formar cidadãos conscientes.

O distanciamento dos pais da vida escolar fragiliza o vínculo com a escola e reduz a motivação dos alunos. O professor acaba assumindo papéis que extrapolam sua função, o que intensifica o desgaste emocional.

Mesmo assim, o professor segue firme, exercendo diariamente um ato de resistência e amor, garantindo que cada aluno seja visto, acolhido e estimulado a alcançar seu potencial. Embora não seja justo que precise suportar tantos fardos, é inegável que sem ele nenhuma profissão existiria.

Cabe à sociedade valorizar e amparar esses profissionais, pois, se o professor continuar carregando sozinho o peso do giz, um dia o silêncio do cansaço apagará a voz que ensina o mundo a pensar.

Vitória Marques de Oliveira Cardoso

Advogada, pós-graduanda em Direito Penal e Processo Penal, com atuação nas áreas Criminal, Previdenciária e de Família. É coordenadora da Comissão da Advocacia de Guapiaçu, da 22ª Subseção da OAB de Rio Preto.