O que explica esta alta
Só em São Paulo as famílias desembolsaram R$ 2,8 bilhões a mais em 2024 com gasolina, diesel e gás em razão do aumento das margens, na comparação com o que pagariam se os reajustes tivessem seguido somente a inflação

Assim, torna-se difícil controlar a inflação e preservar o poder aquisitivo da população. Segundo dados recentes da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), entre janeiro de 2021 e junho deste ano, a margem média de revenda da gasolina comum nos postos saltou 97% e a do diesel, 89%. No mesmo período, a inflação acumulada pelo IPCA, índice oficial de preços no Brasil, foi de 31%.
O aumento da margem sobre o gás de cozinha (58%) foi menor, mas ainda assim quase o dobro da variação da inflação. Se as margens tivessem sido corrigidas apenas pela inflação, a diferença seria significativa: no caso da gasolina, R$ 0,60 por litro acima do preço da distribuidora, e não os atuais R$ 0,90; no diesel, R$ 0,56, e não R$ 0,81; e no gás, R$ 25,00 por botijão, em vez dos quase R$ 30,00 praticados hoje.
A diferença de alguns centavos nos combustíveis pode parecer pequena, mas se transforma em bilhões de reais quando multiplicada pelo volume comercializado. A pesquisa comprova que os postos em todo o Brasil adotaram aumentos agressivos nas margens de lucro, o que significou bilhões pagos a mais pelos motoristas no abastecimento de gasolina, diesel e gás de cozinha.
O economista Eric Gil Dantas, do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), calcula que só em São Paulo as famílias desembolsaram R$ 2,8 bilhões a mais em 2024 com os três itens — gasolina, diesel e gás — em razão do aumento das margens, na comparação com o que pagariam se os reajustes tivessem seguido somente a inflação.
O Sincopetro, sindicato que representa os varejistas de combustíveis no Estado, argumenta que parte da elevação das margens se deveu ao reajuste acima da inflação na remuneração dos frentistas (41,7% entre 2021 e 2025, contra IPCA de 31%) e ao aumento da taxa básica de juros no período (de 2% para 15% ao ano), já que parte dos caminhoneiros compra diesel a prazo. Ainda assim, o sindicato reconhece que os reajustes ficaram acima da média.
Em São Paulo, onde há forte concorrência entre postos, o aumento da margem foi de 62%, abaixo da média nacional, mas ainda expressivo. Já no Paraná ocorreu o maior salto: 267% no preço da gasolina, contra inflação de 31%.
A Petrobras afirma que, apesar da queda nos preços dos combustíveis em determinados períodos, não observa repasse integral dessas reduções ao consumidor final. Por lei, desde 2002, os preços de combustíveis e do GLP são livres, mas a estatal defende que governo e sociedade precisam intensificar a fiscalização sobre o setor.
A tendência de alta nas margens continua em 2025. Entre janeiro e junho, a gasolina subiu 13% e o diesel, 32%, diante de uma inflação de 2,99%. Somente o gás de cozinha manteve estabilidade.
Os preços dos combustíveis impactam diretamente o orçamento das famílias — especialmente as que dependem de veículos no dia a dia. Quase dois terços de tudo o que circula no Brasil é transportado por caminhões, o que faz com que a alta do diesel seja repassada para o preço final de bens e serviços, corroendo ainda mais o poder de compra dos consumidores.
Sem dúvida, trata-se de um mercado volátil e sujeito a mudanças rápidas. Mas nada disso explica, por si só, o crescimento expressivo das margens de lucro praticadas pelos revendedores nos últimos anos.