Diário da Região
ARTIGO

O silêncio e a violência

O Poder Legislativo sucumbiu ao mais desprezível papel no jogo democrático

por João Paulo Rillo
Publicado em 02/07/2025 às 19:08Atualizado em 03/07/2025 às 08:42
João Paulo Rillo (Divulgação)
João Paulo Rillo (Divulgação)
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A sessão legislativa do dia 26 de junho de 2025 marcou a minha vida parlamentar de uma forma crua e muito intensa. Um dia repleto de simbolismo, truculência e autoritarismo.

Foi um processo marcado por tensões, rupturas e cicatrizes institucionais. Depois de digladiar por quase sete horas contra a imposição de uma peça orçamentária que desprezou completamente as necessidades mais sensíveis da cidade, o Poder Legislativo sucumbiu ao mais desprezível papel no jogo democrático: fez o jogo menor da política, sujou as mãos de sangue para que o governo levantasse o tão desejado troféu de “quem manda aqui sou eu!”.

A cidade foi derrotada. Foram derrotados as crianças e os adolescentes, o meio ambiente, a população LGBT, a transparência, a arte e a cultura, a democracia e, principalmente, os parlamentares que têm o mínimo de vergonha na cara e votaram constrangidos, sob a ordem do governo.

Foi uma sessão vexatória, ao ponto de o experiente vereador Paulo Pauléra declarar constrangimento em sua última votação. Pauléra apresentou uma proposta razoável de composição, mas foi enquadrado pelo governo, que, naquele instante, despachava de Roma. Foi importante essa posição de quem presidiu por três vezes o parlamento, mas Pauléra e outros poderiam ter feito mais, poderiam ter cerrado fileira em defesa da civilidade política e votado favoravelmente a todas as emendas.

Foram quase sete horas de sessão, com três horas só de discussão, das quais eu falei mais de duas horas sobre as propostas apresentadas pelo nosso mandato. Não houve excesso de inscrições de fala da minha parte, mas reinou o silêncio daqueles que votaram contra a cidade sem dizer uma frase como justificativa. Como se o diálogo — o ato natural e imprescindível de falar e se posicionar na vida pública parlamentar — fosse supérfluo, algo como “estou eleito e não devo satisfação a ninguém”.

Diante da completa falta de argumentos para contrariar propostas que atendiam às urgências da população, transbordaram estupidez e barbárie de alguns ocupantes das cadeiras legislativas.

Uniformizados de autoritarismo, os homens que outrora foram atacados violenta e levianamente, agora, empoderados e deslumbrados com o poder, alugaram a mesma máquina de estupidez e truculência para usar contra os seus opositores. Apostam que esse tipo de intimidação vai ajudar a esconder as imensas dificuldades de dar respostas práticas à sociedade sobre os problemas reais da cidade.

Instrumentalizam a besta fera útil e voluntária para lançar mísseis velhos e exibir seu tanque de força bruta e pensamento flácido, o mais puro ornamento bélico da política autoritária.

General, para derrotar nossas lutas e sonhos, vai precisar de muito mais do que um cabo e um soldado na porta da nossa suprema vontade de melhorar e transformar nossa cidade.

João Paulo Rillo

Vereador (PSOL)